Num pequeno parêntesis e depois de confirmarmos a desterritorialização e o transnacionalismo da nova música improvisada, podemos - apenas pela referência ao passaporte - declinar alguns nomes nacionais, tendo sempre em conta que a capilaridade estilística e o intercâmbio, são apanágio desta arte musical.

Podemos, por ordem cronológica e desde os finais da década de 1960, alinhar algumas figuras relevantes da música portuguesa, artistas com carreiras comprometidas no projecto da improvisação contemporânea; todos foram de certa maneira polinstrumentistas (e.g. sopro, corda, percussão, vocalismo; ou com inclinações electroacústicas, concretistas e, recentemente, informáticas); auto-produtores e engenheiros do seu próprio  som; relacionaram improvisação musical com interacções artísticas e tecnológicas.

Os mais importantes improvisadores portugueses são aqueles que conheceram mais internacionalizações, em  interacções qualitativas e quantitativas e participaram em realizações de decisão e intervenção originais como compositores/intérpretes, mesmo em criações inéditas e consideradas pela História da Música Contemporânea  (e.g. Carlos Zíngaro, violino, arranjo, electronics, computação, primus inter pares; Jorge Lima Barreto, piano, teclados, electronics; Plexus; Anar Band; Carlos Bexegas, flauta, electronics; Telectu; Miguel Azguime, percussão, electronics, computação; Vitor Rua, guitarra, arranjo, computação, electronics; Nuno Rebelo, guitarra, electronics; Rafael Toral, guitarra, electronics, computação; e.a.)

Podemos levantar en passant outras significativas figuras solísticas, grupais, incidências organigramaticais e técnicas: (e.g. Sei Miguel, trompete, arranjo; Zé Oliveira, traps; D.W. Art; António Duarte, electronics; Moeda Noise; Miso Ensemble; Zé Ernesto Rodrigues, viola; Paulo Curado, sopros; Rodrigo Amado, sopros; Luis Desirat, bateria; David Maranha, heterofones; Osso Exótico; Vidya Ensemble; Bruno Pedroso, Marco Franco, bateria; Manuel M. Mota, guitarra, fingerpicking; Rute Praça, violoncelo; Vitriol; João Paulo, piano; Gonçalo Falcão, guitarra; Kromlecs; Tozé Ferreira, Emilio Buchinho, P. Raposo, Carlos Santos, Nuno Tudela, Vítor Joaquim, André Gonçalves, o projecto Granular, acções em electronics, video, interacção, tempo real, live processing, computação e/ou lap top; etc...).

Num caracter idiomático da música popular portuguesa o guitarrista Carlos Paredes é facile princeps da improvisação, à qual se dedicou generosamente.

Soslaiemos algumas discursividades improvisadas por intérpretes classicistas (e.g. João Pedro Oliveira, órgão; António Victorino D´Almeida, piano; Pedro Carneiro, percussão, e.a.); devaneios de conspícua qualidade pop; ou improvisadores parajazzísticos em interlúdios de improvisação total, do solo ao pequeno conjunto, aquando  declinaram momentaneamente a ortodoxia do Jazz, i.e. os que viveram em profundidade a ousadia do discurso sem restrições em situação de registo fonográfico ou em concerto no âmbito da improvisação (e.g. os contrabaixistas Jean Saheb Sarbib, Zé Eduardo, Carlos Barretto, Carlos Bica; os sopradores Rão Kyao, Carlos  Martins, Laurent Filipe; o pianista António Pinho Vargas; a vocalista Maria João; os guitarristas José Peixoto, Paulo C. Martins; os bateristas/ percussionistas Mário Barreiros, A. Salero, José Salgueiro, e.a.).

Houve e há inúmeros textos avulsos sobre a matéria em publicações periódicos, revistas, catálogos, livros; esboça-se um círculo de editoras discográficas dedicadas à especialidade e, organizaram-se festivais ou eventos de grande nível internacional, exclusivamente dedicados à nova improvisação, os quais estimularam esta liberdade estética dos músicos portugueses.

Não devemos descuidar as acções interartísticas constantes do vademecum da improvisação musical - esta seita sempre foi resgatada por outras artes (e.g. dança, teatro, vídeoarte, performarte, cinema, instalação, escultura, ambiências e outras funcionalizações por qualquer motivo cultural; houve poliartistas arroláveis que apostaram como protagonistas de música improvisada); consideremos aqui a categoria do "não-músico" como um assumido estigma futurista (e.g. Ernesto de Sousa, Puzzle, António Palolo, Constança Capdeville, L. Bragança Gil, Projecto /Progestos, António Olaio, Pedro Tudela, José Eduardo da Rocha, Paulo Eno, No Noise Reduction, João Paulo Feliciano, João Fiadeiro, René Bertholo, Adriana Sá, e.a.). Alguns poetas e declamadores líricos e /ou concretistas trabalharam em interacção coma improvisação musical; (e.g. E.M. Melo e Castro, João Perry, Eugénio de Andrade, Artur Bual, Ana Hatherly, e.a.).

De qualquer maneira está criado um círculo artístico de músicos e musicógrafos devotados à improvisação.

TEXTO DE JORGE LIMA BARRETO- Lisboa, 25 de Abril de 2004 - D.R.