Artigos

Último Podcast (23 Março 2024)

Podcast

Entrevista com The Dust

Entrevista com The Dust

Entrevista com Tó Trips

Entrevista com Tó Trips

Entrevista com Rui Reininho

Rui Reininho

Entrevista com Doutor Assério

Entrevista com Doutor Assério

Emissão em Direto (Sádado 12-15)

Clica para ouvir

Pronto. Viriato, Camões, futebol, sardinhas assadas, fado e vinho tinto já não chegam para edificar o arquétipo português. A partir de agora, não é bom português quem não perceba um pouco de rock «português», quem desconheça o Rui Veloso e o Chico Fininho, a Adelaide Ferreira e a Baby Suicida, os Táxi e Chiclete; quem não entoe pelas esquinas da Rua do Carmo o Chamem a Polícia, o Robot, o Malta à Porta; quem não sustente que, Se cá Nevasse isto era Portugal na CEE; quem não use e abuse de Um Café e Um Bagaço e do Patchouly com os respectivos «pis» decorativos.

Está dito: o rock «português» existe. Está dito: o rock «português» não existe. Está dito: o rock «português», é um grande negócio.

Antes de Rui Veloso era um mau negócio. O rock. «Português». Hoje há discos a pingar ouro. Há editoras em fúria, estúdios muito ocupados, músicos atarefados, discos e concertos ao desbarato. Há interesses. Há intrigas de bastidores. Há páginas e páginas de jornais abertas ao fenómeno.

Há pouco mais de dois anos era o silêncio. De repente um rapaz do Porto canta um rock zito ligeirinho, em português, bem promocionado e bem digerido, e aí está: o rock «português».

Em Fevereiro de 1980, quase dois anos depois de os Tantra terem sido a primeira portuguesa de rock a encher o Coliseu dos Recreios de Lisboa, Lena d'Agua, então dissidente dos Beatnicks, apresentava-me num bar da capital o ilustre desconhecido Rui Veloso. Nessa noite ouviria, pela primeira vez, Chico Fininho, ao vivo, cantado à guitarra. No bolso do cantor estava a maqueta do êxito: as letras eram simples e musicais, falavam do quotidiano e de putos da rua, usavam calão «freakalhote» e saltavam para o ouvido. A música era o trivial blues-rock, a balada bonitinha, a canção ligeira electrizante. O jovem venceu e vendeu com «Ar (apenas) de Rock». Foi o bastante para ser armado cavaleiro número um da ordem do rock «português».

Cerca de meio ano antes do primeiro encontro com o Rui, finalizava (ou melhor, julgava que finalizava) este livro que vocês têm nas mãos. Finalizava-o depois de muitos meses de investigação, depois de vários anos a ouvir (bom) rock feito em Portugal. Finalizava-o a sentir, também, a frustração dos músicos de rock portugueses de não saírem de casulos imaginários, de se verem condenados à sobrevivência em bailaricos ou festinhas de atrasados mentais.

Quis o destino que a editora que inicialmente iria publicar este livro abrisse falência, já com a obra no prelo. Ficaram, assim, estas páginas fechadas na gaveta até nova oportunidade. Que veio dois anos depois. Que veio em época de euforia, voados cento e oitenta graus no rock de expressão portuguesa.

É inegável que o rock «português» se tornou um fenómeno a partir dos finais de 1970. É cedo ainda para o analisar e é cedo ainda para o perspectivar. De qualquer modo, este livro, com as suas limitações e omissões, pretende exprimir a certeza de que o rock «português» tem vinte e cinco anos de idade; de que o que está para trás é válido, é uma aventura, é quase um romance; de que tempos houve e tempos há (apenas para alguns poucos músicos) que o rock era e é, antes de mais nada, uma cultura, uma nova forma de partir para a música e para o mundo que nos rodeia. Disseram-no, muitas vezes com um sorriso à boca do palco, frente a adolescentes envergonhados e a papás vigilantes, os Sheiks, o Quinteto Académico, os Gatos Negros, o Zeca do Rock, os Conchas, os Demónios Negros, Daniel Bacelar, Fernando Conde, os Ekos, José Cid e o 1111, o Pop Five Music Incorporated, o Psico, o Objectivo, os Beatnicks, o Very Nice, o Nirvana, o Pentágono, o Kama-Sutra e muitos outros saudosos músicos e grupos de rock. Reafirmaram-no, mais tarde, nos tempos da evolução e das novas técnicas, os Petrus Castrus, os Tantra, o Perspectiva, os Go Graal Blues Band, o Arte & Ofício, os Faíscas, o Aqui d'El Rock, o UHF.

E, no entanto, hoje fala-se por aí em «inventores» do rock «português», como também se fala de rock que «não é rock português» como se fosse uma vergonha fazer rock em português...

Muita coisa mudou por cá, mas não tanto ao nível do conhecimento e da originalidade musical. Portugal não constava dos ficheiros das grandes multinacionais do disco. Hoje é roteiro apetecido para edições de toda a espécie, que vendem porque há poder de compra, porque há capitalistas empresários, promotores, produtores, estúdios, técnicos, publicitários. Porque há mais jornais, porque se ouve mais rádio, porque a publicidade deixou de ter medo de fantasmas, porque a sociedade de consumo se vai edificando. Em pilares de barro.

Salvo raras e honrosas excepções, os grupos de rock portugueses foram envolvidos na teia, massificaram e banalizaram o conteúdo da sua mensagem. Apuraram-se tecnicamente, mas esqueceram a rebeldia, a espontaneidade, os happenings. As condições para se ser músico de rock em Portugal estão aí, quase todas, finalmente, mas falta-nos agora meter o pauzinho na engrenagem que já é o rock «português».

Apesar de tudo, ainda bem que há UHFs que rescindem contratos e que dizem «não», que há Xutos e Pontapés que se mantêm três anos sem gravar porque não estão à venda; que há Frodos que recusam receitas e rejeitam o gratuito, o fácil e o comercial; que ha GNRs doidos; que há Roxigénios que não aceitam cantar em português, quando cantar em português virou «moda»; que há Jafumegas não alinhados e Trabalhadores sem Comércio; que já existem duas ou três etiquetas independentes; que estão no ar programas de rádio «piratas»; que há e funciona uma associação de meia dúzia de grupos que luta por interesses comuns e pela defesa da sua dignidade. O resto é conversa de café...

E, já agora, então, antes que lhes conte esta história de quarto de século, de grandezas e misérias, dos Babies aos Heróis do Mar, aqui fica, dos Táxi, a melhor conclusão a este prólogo - Chiclete:

«E como tudo que é coisa que promete / A gente vê-a como uma chiclete / Que se prova, mastiga e deita fora / Sem demora.

Como esta música é produto acabado / da sociedade de consumo imediato / Como tudo o que se comete nesta vida / Chiclete / Chiclete / Chiclete.

E nesta altura e com muita inquietação / Faço um reparo, quero abrir uma excepção / Um cassetete nunca será, não / Chiclete.

Chiclete / Chiclete / Chiclete (prova) / Chiclete (mastiga) / Chiclete (deita fora) / Chiclete (sem demora).»

ANTÓNIO A. DUARTE

PREFÁCIO DO LIVRO "25 ANOS DE ROCK'N PORTUGAL"

Parcerias

 
A Trompa Triciclo NAAM Ride The Snake Larvae Records

Parcerias Software Livre Audio

 
Rivendell - Radio Automation Mixxx - Free DJ Mixing Software Paravel Systems

Contactos

Manuel Melo
Av. D. Nuno Álvares Pereira, 215
Apartamento 23
4750-324 Barcelos

Email: sinfonias[inserir o belo e sedutor símbolo da arroba nesta posição]sinfonias.org

Telefones: 253 044 720; 933 595 923

Não esquecer: se for para tocar no programa, devem enviar faixas audio em qualquer formato (de preferência com o mínimo de compressão).
O software de automação do Sinfonias de Aço é dedicado e não toca streamings.