"NA DESPORTIBA"
Letra & Música - Sérgio Castro
Uma das últimas canções deste álbum a ser composta foi “(Andäqui) na desportiba”. Vinha eu no carro, já não sei se do Porto para Vigo, ou vice-versa e lembrei-me da “célebre” malandrice do meu amigo Eduardo, que um dia me disse: 'hoje levantei-me às 6 da manhã e fui correr';. Como tivesse ficado surpreendido com a sua “valentia”, retorqui: Não acredito! Tão cedo?!. Respondeu-me: 'Fui correr a cortina que estava a entrar uma claridade...!';. Daí à frase “o desporto é salutar, bou correr uma cortina” foi um ápice.
Depois lembrei-me de muitas outras coisas que me intrigam, desde a ideia da disciplina, com a qual sempre tive algumas desavenças e da qual sempre duvidei até certo ponto, até à praça Marquês de Pombal, onde não sei se há algum ginásio ou não, mas onde passei muitos bons momentos da minha vida de jovem adulto, no início dos 70s e principalmente após a revolução de Abril.
As ideias sucediam-se em catadupa: o típico “atleta giraço” que sai de manhã a passear o cãozinho, sapatinho de pala sem meia, camisola Lacoste e calção ajustadinho. No fim de semana vai com uns amigos fazer um passeio de barco à vela, talvez pela ria de Vigo, de Arousa ou só pelo rio Douro. Tanto faz. Estas “vedeta de confeitaria chique” existem em toda a geografia peninsular e não só, e conheço uns quantos, aos quais só posso agradecer a inspiração que me têm dado.
Ainda na viajem, recordo ter gravado no telemóvel uma melodia, muito parecida com a que finalmente ficou, assim que obtive a primeira frase: “O desporto é salutar, bou currer uma cortina. Dizem que dá bom andar e até discipelina”. Chegado a este ponto, impunha-se começar a descrever o “atleta”: “Pônhua fasquia alta, creio que 'té paga a pena... Soio usar um ganchàfrente, segurandoma melena”. Inicialmente escrevi “creio caté bale a pena” mas a minha fobia às acentuações trocadas para ajudar na métrica – tão recorrentes no pop nacional – levou-me ao recurso da apócope do “a”, já que não somos poucos os que dizemos “té logo”. Posteriormente, também me pareceu que “a bandulete” era uma melhor solução que “usar um ganchàfrente” para dar uma ideia mais precisa e pormenorizada do nosso protagonista.
Chegado a casa, já com meia letra registada, comecei o processo da maquetagem da futura canção, para a qual ainda faltava o mais importante: o refrão. Escolhi o “loop” de bateria adequado a 140bpm e acertei-o para 141 – outra das minhas “manias” é usar exclusivamente temos ímpares – gravei uma guitarra acústica e uma voz de referência. De repente fez-se luz e aí estava o refrão: “Sou um ateleta da cabessa 'té ós pés”. Ainda que acabasse apenas na repetição, foi realmente o primeiro verso que me saiu. Pareceu-me definitório e definitivo.
Durante umas horas, nesse dia, e mais algumas no dia seguinte, gravei uma amostra tosca da canção para que os restantes Trabalhadores ainda pudessem ouvi-la e aprende-la a tempo do ensaio que se realizaria no fim-de-semana seguinte ao mesmo tempo que terminei de desenvolver o resto da letra e dei os últimos retoques na já escrita.
Desta forma, quando chegámos à Planta Sónica, em Fevereiro deste ano, pudemos grava-la ao vivo com o sexteto a tocar junto e apenas com a minha guitarra de referência por linha, já assumindo que haveria que regrava-la, assim como sucedeu com a voz. As vozes da Daniela Costa e da Diana Basto foram gravadas pelo Pedro Vidal, no Templo Estúdio, já em Março e na mistura voltámos à Planta Sónica com o Pancho Suarez aos comandos.
A masterização esteve a cargo do Fabian Tormin, dos estudios Plätlin Mastering de Hamburgo A canção acabou por resultar fresca e divertida e os Trabalhadores agora crêem que é o “single” perfeito para este Verão. Será?
A ver vamos!
NA DESPORTIBA
O desporto é salutar
bou currer uma cortina
dizem que dá bom andar
e até discipelina
Pónhua fasquia alta
creio que 'té paga a pena
Soio usar a bandolete
segurándoma melena
Num tumei umàtitude
mas tumei a protaína
cumpensei a indecisom
com a mesma bitamina
Ninguem tem pedal pra mim
na bertigem da corrida
sou dos que aldraba o passo
pra tratar da minha bida
Ollhumò ispeilho cada dia ó lebantar
Beijumum fedeilho cum buntade de singrar na bida
Queristar, ficar e figurar... Pra andar aqui na desportiba
Lebo o pincher pela trela
doulhe todumeu carinho...
e saio àandar de barcàbela
cu culête e o sapatinho
Entro no ginásiuàs seis
já cansado e sempràrfar
Inda hoije andós papéis
pra subir ó ispaldar
Sou um ateleta da cabessa 'té ós pés
sou a bedeta no “ginásio” do Marquês, cuanduentro
Pra istar, ficar e figurar... Pra seguir aqui na desportiba
sou forte
tenaz
Astuto
Capaz
girasso
um ás
e até te dizem bom rapaz!
e até te chamam bom rapaz!