Piano e vozes: Vicente Palma
Coro: Rui Berton, Pedro Martinho e Miguel Fonseca
Vídeo e montagem: Rui Berton
O Fausto é um dos nossos Grandes, uma lenda viva e uma referência musical fundamental para mim.
A propósito do 40º aniversário do 25 de Abril, fui convidado para participar n' "Os Dias Cantados", iniciativa da Antena 1. Escolhi a "Como Um Sonho Acordado", do Fausto, e entreguei-me por completo. É fácil quando estamos a falar do melhor que a música portuguesa tem para nos dar.
O Fausto tem uma forma muito própria de fazer coros: no caso desta música, pedi à minha banda que viesse cantar comigo este refrão (se é que assim o podemos apelidar) tão negro e tão belo. Hei-de voltar ao "Por Este Rio Acima"...
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Como se a Terra corresse
Inteirinha atrás de mim
O medo ronda-me os sentidos
Por baixo da minha pele
Ao esgueirar-se viscoso
Escorre pegajoso
E sai
Pelos meus poros
Pelos meus ais
Ele penetra-me nos ossos
Ao derramar-se sedento
Nas entranhas sinuosas
Entre as vísceras mordendo
Salta e espalha-se no ar
Vai e volta
Delirante
Tão delirante
É como um sonho acordado
Esse vulto besuntado
A revolver-se no lodo
A deslizar de uma larva
Emergindo lá ao fundo
Tenho medo, ó medo
Leva tudo, é teu
Mas deixa-me ir
Arrasta-me à côncava funda
Do grande lago da noite
Cruzando as grades de fogo
Entre o Céu e o Inferno
Até à boca escancarada
Esfaimada
Atrás de mim
Atrás de mim
É como um sonho acordado
Esses olhos no escuro
Das carpideiras viúvas
Pelo pai assassinado
Desventrado por seu filho
Que possuiu lascivo
A sua própria mãe
E sua amante
Meu amor quando eu morrer
Ó linda
Veste a mais garrida saia
Se eu vou morrer no mar alto
Ó linda
E eu quero ver-te na praia
Mas afasta-me essas vozes
Linda
Tens medo dos vivos
E dos mortos decepados
Pelos pés e pelas mãos
E p´lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
Como te tremem as carnes
Fernão Mendes