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Uma das mais importantes demos da música portuguesa nos anos '90 e seguramente um trabalho imprescindível da cena barcelense. Foi gravada em Viana do Castelo, por Paulo Miranda, nos estúdios AMP. Duas destas faixas estão incluídas em compilações, ambas de 1995: “Inexpedint” na “Deixe de Ser Duro de Ouvido – 1º Aniversário” (Independent Records – IRCD95005/A) e “What’s My Sentence” na “Ritual Rock II” (Xinfrim – XEM 9001 CD).

Angelica's Mercy

1. Inexpedint (5:10)
2. Myosis (4:58)
3. Heroin (9:00)
4. What's My Sentence (5:00)
5. So - Called Distant (6:00)
6. Motherfuckin' Time (5:32)



No início era a inocência: o pop-rock teen dos Ah-Doc que, mesmo assim, chegou e sobrou para ganhar o Rock Viridi, em Vila Verde, decorria o ano de 1992. E serviu também para uma longa série de concertos, dentro e fora de Barcelos, que permitiram ao quarteto ganhar experiência e maturidade enquanto músicos... ao ponto de não quererem mais fazer aquilo e deixar cair o projecto.

Das cinzas, rapidamente nasceriam os Angelica's Mercy, com três dos quatro anteriores Ah-Doc: André Reis (baixo e voz), Jorge Aristides (bateria) e Pedro Nuno (guitarra), sendo Ricardo Cibrão (guitarra) o único que não transitara do anterior projecto. Estávamos em finais de 1994 e a torrente inspiradora dos Angelica's Mercy era agora proveniente de nomes como The Felt, The Jesus And Mary Chain, The Cure, Joy Division, The Young Gods ou Velvet Underground, entre muitos outros nomes. A presença de duas guitarras estava justificada desde logo pela sonoridade, muitas vezes no limite do feedback.

Antes de virarem o ano, tocaram no 1º Encontro de Música Moderna de Viseu, causando enorme sensação e sendo considerados uma das três melhores bandas de todo o festival. Mais perto de casa, tocaram no Cervães Rock, em Vila Verde.

Sem tempo a perder, gravaram a 1ª demo, com Paulo Miranda, nos estúdios AMP (Viana do Castelo), logo em Fevereiro de 1995. Apenas com fins promocionais, chamava-se “Deep Noises From The Backwoods” e apresentava-nos quatro temas: “Inexpedint”, “Myosis”, “So Called-Distant” e “Motherfuckin' Time”. O primeiro faria parte da compilação em CD promovida pelo programa da RUM, “Deixe de Ser Duro de Ouvido” (mais tarde, também editora e agência, sediada em V. N. Famalicão). Com a maqueta de estreia ainda a ser digerida, Paulo Miranda, cede-lhes gratuitamente o estúdio e convida-os para a difícil tarefa de recriar o clássico "Heroin" dos The Velvet Underground. A banda aceita e com tempo de estúdio ainda disponível, grava "What's My Sentence". Estas duas faixas farão parte da segunda demo da banda, "A Million Days of Immaginary Rain", conjuntamente com os outros quatro da primeira sessão. Esta demo é, nos dias de hoje, uma verdadeira raridade no underground nacional. “What's My Sentence” acaba por conhecer uma exposição mais ampla ao ser incluído na compilação “Ritual Rock II”, que acompanhou a edição nº 9 da revista Ritual, em 1996. Este CD apresentou 18 novas bandas nacionais, algumas ainda em actividade. Como curiosidade, refira-se que os Angelica's Mercy beneficiaram de ser a ordem alfabética a escolhida para a compilação, o que fez com que a banda de Barcelos abra esta compilação, que é também ela uma raridade nos dias de hoje.

A banda começa a tocar com bastante regularidade, ficando para a memória um concerto em Felgueiras com os The Melancholic Youth Of Jesus e Sad Cow, outro em Barcelos, no pavilhão municipal, perante 3000 pessoas, na abertura para Pedro Abrunhosa e os Bandemónio e ainda a vitória no 3º Concurso de Música Moderna de Castelo de Paiva, entre imensos outros de maior ou menor dimensão e um pouco por todo o lado.

Nos planos esteve ainda uma digressão com os The Melancholic Youth Of Jesus, onde as duas bandas interpretariam temas dos The Velvet Underground. Não obstante terem realizado alguns ensaios, o projecto de digressão não passou disso mesmo e acabou por não se concretizar.

Até que os Angelica's Mercy passaram a quinteto com a inclusão do saxofonista Paulo Antunes que, ironicamente, viria deixar cair a guilhotina sobre a estética musical da banda até então. O ocaso acabou por ter lugar no mítico bar Palha d'Aço, na Ribeira do Porto. A banda dividiu a actuação em duas partes: uma primeira mais “clássica” e de acordo com o trabalho exposto na demo e até então mais conhecido, e a segunda com a improvisação do saxofone. Entre os presentes na sala, estava Jorge Manuel Lopes, jornalista do jornal Blitz, que lhes fez uma um elogio arrebatador, dando-lhes uma exposição que até então não havia sido possível. A verdade é que a crítica e a reacção das pessoas à nova estética fez a banda acreditar que estava no caminho certo e, ainda sob o nome de Angelica's Mercy, gravaram uma demo em formato longa-duração que acabaria por nunca ser editada.

Pouco tempo depois os Angelica's Mercy sucumbiam definitivamente, dando lugar a uma das mais determinantes bandas barcelenses da década de '90 e, provavelmente, decisiva para o impacto que a música feita nesta cidade viria a assumir até aos dias de hoje: The Astonishing Urbana Fall.

Em jeito de curiosidade, em meados dos anos '90, a SIC exibia aos domingos de manhã a série Rugrats (Meninos do Coro), da Nickelodeon. Uma das personagens era Angelica Pickles, de três anos, e parte da inspiração do nome da banda vem daí.

 

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