Existe algo de mágico em bandas de dois elementos. Claro, todos nós guardamos o power trio na nossa imaginação colectiva como uma espécie de formato definitivo do que deveria ser o rock sem merdas, mas principalmente nos últimos anos, o ainda mais despido formato duo mostrou-nos que uma ligação directa entre dois músicos, habitualmente entre uma guitarra e bateria, pode conter toda a intensidade da força directamente das entranhas necessária para o rock e metal.
De Beehoover a Bölzer, de Death From Above 1979 a Darkthrone, não faltam exemplos em todos os géneros, e em breve, os Son Of Cain começarão a ser citados também entre eles.
O guitarrista Hugo Conim e o baterista/vocalista Alexandre Mota são ambos conhecidos na cena underground nacional. O Hugo, de formações como Dawnrider, Dragon's Kiss, Clockwork Boys, Patrulha do Purgatório ou os lendários crusters Subcaos, onde, em determinada tocou com o agora companheiro nos Son of Cain, precisamente o Alexandre que é mais conhecido pelo seu passado ne cena nacional de black metal, com Corpus Christii, Morte Incandescente ou Storm Legion, todos projectos que emergiram da escuridão da sua alma, mas teve também a sua parte numa vertente mais rock em A Tree Of Signs, por exemplo. Os dois são amigos e colegas musicais de longa data e os Son Of Cain é onde o resultado da sua ligação telepática é finalmente revelada em toda a sua glória.
Após um EP introdutório, de nome "LowLife 69", ainda com uma vertente bem marcada do início da banda e com uma formação maior, o Alexandre e o Hugo agacharam-se, tomaram o palco como um duo sólido de rock guitarra/bateria e nesse processo solidificaram verdadeiramente a personalidade musical de Son Of Cain. Isto é, essencialmente, o que pode ser ouvido neste surpreendente longa-duração de estreia, "Closer To The Edge" - a banda a encontrar a sua voz e a fazer ouvi-la bem alto da melhor forma possível.
Tal como os melhores duos, os Son Of Cain estão desprovidos de qualquer fofura. Os riffs são claros, limpos e maciços, as canções avançam de forma tão poderosa e concreta como aquele muscle car vermelho brilhante, onde as versões de desenhos animados dos nossos rapazes andam na capa do álbum e a vibração geral é refrescante e descomplicada. Tão bluesy quanto duro, tão groovy quanto esmagador. A abordagem sólida e sem absurdos de tudo isso torna difícil escolher os destaques, mas a voz do Alexandre - e não é um baterista/vocalista, de Phil Collins a Chris Reifert, uma das coisas mais interessantes de sempre? - pode ser apenas o último retoque necessário. Para alguém que costumava gritar e rosnar da maneira mais extrema possível, ele atravessa essas músicas como um verdadeiro rock'n'roller... e muito versátil também - ouçamo-lo apenas cantar em "Like Stone", por exemplo, depois do rasgo na abertura "Hit The Road".
A banda certamente será rotulada com termos como stoner ou proto-qualquer coisa, isto é puro rock pesado, como apenas alguns poucos ainda se preocupam em fazer hoje em dia.
https://www.facebook.com/sonofcainlowlife/
https://ragingplanet.bandcamp.com
https://sonofcain69.bandcamp.com/
©2018 Raging Planet (AS/RP271)
©2018 Half Beast Records (HB3306-1)
Gravado no Hellgarve studios por Paulo Vieira entre Abril e Maio de 2017
Vozes gravadas no S.A.T.H.R. studios
Ilustração de capa de Ricardo Reis
Fotos de Roberto Raposo
Artwork de Phobos Anomaly Design
1. Hit The Road (5:03)
2. Born to Fall (3:30)
3. Beyond (4:27)
4. Like Stone (4:22)
5. The Old Man (3:08)
6. Step Tight (Reach The End) (2:42)
7. Dead Corner Bastard (3:15)
8. Human Prey (4:17)
9. Boiled Up! (4:20)
10. Outro (3:08)