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Os SERES são, provavelmente, um dos segredos que mais urge (re)descobrir no panorama da música feita no nosso país. Longe vão os anos em que o coletivo de Algés via, com frequência, o seu nome na imprensa escrita, que ora os noticiava como um dos grupos participantes no mítico concurso de Música Moderna Portuguesa do Rock Rendez-Vous, ora se aventurava a descrever a sua singular sonoridade.

Estávamos na década de 80, mas no virar para os anos 90 a banda desapareceu na bruma, qual dom Sebastião, não sem antes nos deixar gravados uma dezena e meia de pérolas que, agora, volvidos mais de 30 anos, podemos ouvir repetidamente neste CD.
O que mais espanta no legado dos SERES é o facto da música que faziam não ter sido corroída pelo tempo. O seu ADN incomum, onde um violino com alma e uma voz com uma portugalidade similar às do fado mais sombrio, se aconchegam numa estrutura rítmica de baixo envolvente e debruada por uma guitarra de dedilhar emotivo, teria tanto impacto se nos fosse apresentada hoje pela primeira vez, como teve na altura em que verdadeiramente o foi. Esse traço de personalidade musical, bordado com linhas que teceram um manto misterioso e algo místico no seu âmago, trouxe-lhe uma aura de banda de culto que perdura até aos nossos dias.
Há uma certa dramaturgia no seu seio que nos faz imaginar cada canção como um acto de uma peça de teatro cujo epílogo ficou por escrever. E há também capítulos que nos comovem e nos arrepiam, pela toada e pelo conteúdo lírico, e também por aquele violino que, com a voz (aquela voz!), às vezes parece chorar: atente-se, por exemplo, no soberbo "Canto das Silhuetas". A riqueza do naipe musical dos SERES não se esgota num círculo hermético. Nele podemos encontrar ainda nuances folclóricas do nosso país rural (“As Terras do Dinha") e também a herança árabe da nossa cultura, omnipresente em muitas das suas canções, mas com maior notoriedade em "A Nona".
José Henrique Almeida, Diogo Gonçalves, Filipe Magalhães e Mário Resende corporizaram os SERES, um grupo português que existiu há muitos, muitos anos, e cuja obra, finalmente, temos agora a sorte de esmiuçar, experienciar e usufruir. E como sabe bem poder fazê-lo...

Carlos Matos

©2021 Anti-Demos Cracia (ADC091MAI2021)
Edição: 7 Maio 2021
formato disponível:
CD (edição limitada a 100 exemplares)
Digital Álbum
Apoio: Santos da Casa - RUC
Artwork: Carlos Paes
Texto: Carlos Matos
Os Seres são:
José Henrique Almeida - voz, guitarra, produção e técnico de som
Diogo Gonçalves - guitarra
Filipe Magalhães - baixo fretless
Mário Resende - violino
Músicas: compostas pelos Seres
Letras: José Henrique Almeida

Em memória de Filipe Magalhães (4-10-1963 - 10-4-2021)

https://anti-demos-cracia.bandcamp.com
https://www.facebook.com/seres.musica.pt

1. Bailando e Dançando Com a Puta da Vida (3:48)
2. Quando (3:37)
3. Quatro Paredes (
5:44)
4. Dádiva (5:09)
5. O Velho da Rua 5 (4:18)
6. Uma Noite (4:39)
7. O Canto das Silhuetas (4:50)
8. Lá Atrás no Beco (4:52)
9. É Hoje o Dia (4:32)
10. Dança a Landino (3:34)
11. A Nona (5:24)
12. As Terras do Dinha (3:58)
13. Santa Terra do Dão (3:49)
14. Agora (5:47)
15. Alentejo (3:21)

 

 

 

 

 

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