Afonso Pais é guitarrista e compositor. Nascido em Lisboa em 1979, desenvolve desde o início do milénio um trabalho de composição exploratório das vertentes e possibilidades da música improvisada e escrita. Como instrumentista, tem-se expressado essencialmente através da guitarra, mas também do piano e do contrabaixo, estando quatro trabalhos discográficos em seu nome presentemente disponíveis no mercado: Terranova (Clean Feed, 2004), Subsequências, com Edu Lobo (ENJA, 2008), Fluxorama (JACC Records 2010), com Albert Sanz e Onde Mora o Mundo (Orfeu, 2011), em co-autoria com JP Simões.
O último disco “Terra Concreta” (E.A. 2015), um projecto de onze paisagens sonoras sobre Reservas Naturais: sete portuguesas e uma no Bornéu, sudeste asiático.
Desde muito cedo demonstrou interesse pela música, tendo sido o piano o seu primeiro veículo de expressão musical. Em 1995 ingressa na escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, onde estuda durante três anos. Aí integra a Big Band de alunos e sócios do H.C.P (“Big Villas Band”) e é escolhido como representante da escola no 8º encontro da “International Association of Schools of Jazz”, que teve lugar em Siena, Itália, no ano de 1997.
No verão de 1998, a convite de Erik Moseholm, participa, enquanto primeiro representante português, num projecto então em estreia intitulado E.J.Y.O. (“European Jazz Youth Orchestra”). De dezanove países europeus são convocados os mais talentosos jovens músicos de jazz, como parte de uma Big Band. Com este projecto esteve em digressão por dez países do norte e leste da Europa, estando o registo audio disponível em dois CD, editados pelo selo dinamarquês Dacapo, gravados ao vivo em Estocolmo e Berlim – “The European Jazz Youth Orchestra 1998”, Vol. 1 / 2 – destacando-o como solista.
Premiado com uma bolsa de estudos completa pela Berklee College of Music, em Boston, decide ir para os E.U.A. estudar, optando porém pelo ingresso na prestigiada New School University / Mannes College of Music, em Nova Iorque, onde se gradua com uma licenciatura no curso de “Performance”, do programa de “Jazz and Contemporary Music”, em Dezembro de 2000. Afonso tem então a oportunidade de estudar com músicos tais como Buster Williams, Joe Chambers, Charles Tolliver, Andrew Cyrille, Hal Galper, Joanne Brackeen ou os guitarristas Peter Bernstein, Kurt Rosenwinkel e Vic Juris, actuar com Peter Bernstein, Dr. Lonnie Smith, Ben Waltzer, Peter Zak, Chris Higgins, Alexis Cuadrado, Willie Jones III, e participar, enquanto convidado, noutros eventos, como seja o tributo a Jack McDuff, onde actuou ao lado de George Benson, Russel Malone, Mark Whitfield, David Gilmore e Jack McDuff, no prestigiado clube de jazz Nova Iorquino Birdland.
Entre 2001 e 2003 divide a sua actividade profissional entre Lisboa e Nova Iorque, conseguindo um visto com o estatuto de artista exímio nos E.U.A., por recomendação de alguns dos mais conceituados e reconhecidos músicos do panorama jazzístico mundial.
De volta a Portugal, desde o início de 2004, tem-se apresentado enquanto lider nos mais conceituados Teatros e Salas de Espectáculo do país: Grande Auditório Culturgest, Grande Auditório do CCB, São Luiz Teatro Municipal, Casa da Música no Porto, Teatro Tivoli, Aula Magna, Fórum Lisboa, Centro Cultural Olga Cadaval, Theatro Circo de Braga, Teatro Esther de Carvalho, Teatro Garcia de Resende, Cine-Teatro de Alcobaça, Auditório Centro de Artes de Sines, Auditório da Casa das Mudas, na Madeira, e também além fronteiras, no Teatro Ipiranga, no Teatro Estação Gasómetro (Belém do Pará, Brasil) ou nos Festivais Jazz au Chellah (Rabat, Marrocos) e MasiMas Jazz Festival (Barcelona, Espanha), entre outros.
Como acompanhador, integrou o grupo Europeu do cantautor Ivan Lins, com quem esteve em digressão por Itália e Noruega no ano de 2010, enquanto solista. Actuou como convidado especial com a afamada Dee Dee Bridgewater, na companhia da Orquestra de Jazz de Matosinhos, na Casa da Música em 2007. Gravou como convidado especial com Camané e Rui Veloso a música "Conceição" do disco "Rui Veloso e Amigos", com quem também improvisou ao vivo no Coliseu do Porto em 2012. Foi ainda convidado da Orquestra AngraJazz em 2007 e 2008, ano em que se juntou a Mário Laginha, em palco. Colaborou com a cantora brasileira Fernanda Cunha, com quem se apresentou no Festival de Jazz Juan les Pins 2011 na Côte d´Azur, França. Integrou a orquestra da peça musical de teatro "Ópera do Malandro" de Chico Buarque, em estreia portuguesa no Coliseu dos Recreios em Lisboa em 2005, com elenco do Brasil. Colaborou com César Moniz, bailarino e coreógrafo, musicando o poema Ítaca (Odisseia de Homero), o qual apresentou ao vivo no Teatro Tivoli, com corpo de bailado. Escreveu música original para a peça "Grandes Sinais" produzida por José Wallenstein. Convidado pela então renascida editora "Orfeu", em 2011, concebe e grava um novo arranjo de "Redondo Vocábulo" no disco "REintervenção - Tributo a José Afonso", com Orlando Santos.
Registou nos seus discos enquanto líder composições originais, na companhia de figuras internacionais incircundáveis tais como Edu Lobo, Peter Bernstein ou Perico Sambeat, e apresentou a sua música original ao vivo com Edu Lobo, António Zambujo, JP Simões, João Paulo Esteves da Silva, Albert Sanz, Marc Miralta, R.J. Miller, Chris Higgins, Jorge Reis, João Guimarães, João Moreira, Carlos Barretto, Bernardo Moreira, Nelson Cascais, Demian Cabaud, António Quintino, Alexandre Frazão, Marcos Cavaleiro, André Sousa Machado, Luís Candeias, Rita Maria, Joana Espadinha, Luísa Sobral ou Beatriz Nunes, para citar alguns nomes.
Assinou os arranjos e direcção musical dos projectos de JP Simões (2009-2011) e Joana Machado (2005-2008).
Paralelamente à sua actividade enquanto músico, lecciona desde 2008 na ESML (Escola Superior de Música de Lisboa), leccionou na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, Porto) entre 2005 e 2009, na Universidade Lusíada em Lisboa (2009-2011). Lecciona na Escola Luís Villas Boas / Hot Clube de Portugal desde 2001, leccionou no Conservatório de Música da Madeira (2004-2007), Escola de Jazz do Barreiro, JB Jazz, tal como em workshops: CanJazz 2007 na Galiza, 16º encontro da IASJ em Louisville, Kentucky, E.U.A., em 2006, Jazz no Inverno 2005, em Faro, Conservatório Superior Rafael Orozco (2004), em Córdoba. Coordenou e preparou os alunos para as apresentações dos Combos premiados com "Melhor Combo de Escola de Jazz 2005" (H.C.P.), e "Melhor Combo de Escola Superior 2013 " (ESML), na competição anual de escolas do Festival de Jazz do S.Luíz.
"Terra Concreta" nasceu da ideia de levar a música de volta à sua primeira origem, a natureza. Este é um projecto de Duos, no qual a música foi criada tendo o meio natural como veículo de inspiração e influência. Este regresso às origens implicou o inevitável abandono dos espaços fechados e lugares comuns de gravação. Fora do estúdio ou da habitual sala de espectáculo, cada uma das composições foi registada nas zonas mais remotas dos nossos Parques Naturais, e também na ilha do Bornéu (Vale do Danum), onde a floresta intocada é a mais fértil na paisagem sonora que apresenta. Feito sem geradores, só com instrumentos acústicos e com a textura irrepetível dos sons naturais como mote, o registo em disco representa cerca de um ano de incursões no campo, resultando na selecção de temas que melhor representa o momento espontâneo e consequente do meio-envolvente.
Na raiz deste projecto está a ideia de um reencontro com um momento há muito perdido, o instante em que a criação musical se torna consequente e indissociada de um meio envolvente específico que é para nós atávico: o natural.
Na procura dos locais mais remotos, simultaneamente em termos de preservação natural e maior proliferação de vida selvagem, a importância da natureza revela-se essencial nos vários passos de metamorfose do processo criativo: na transição de ideia abstrata para conceito musical, de esboço de canção a arranjo final da mesma, e finalmente, da música já escrita à sua gravação ao vivo e no meio natural, sem edições, concreta.
A escolha da "gravação ideal" de cada peça apresentada, tem como imperativo a máxima simbiose música / momento e local naturais, propondo ilustrar sonoramente o momento natural, irrepetível.
As versões constantes no trabalho discográfico reflectem o carácter tempestivo e clara integração musicais, patentes nas interpretações, improvisos, paisagens sonoras, e, ocasionalmente, nas interacções entre avifauna e músicos.
O resultado é absolutamente original, um documento sincero de gratidão para com quem antes de mim pôde usufruir da inesgotável inspiração que dela podemos extrair, e com generosidade heróica quis a ela dever a determinação de viabilizar a inspiração de futuros pelo seu usufruto, preservando-a.
"Terra Concreta", ponto simultâneo de partida e chegada, sempre, mas nunca de passagem.
Afonso Pais
1. Renovação e Concílio (Afonso Pais) - Vale do Danum, Bornéu Malaio (4:07)
2. Canção de Enganar (Afonso Pais) - Rita Maria - Parque Natural do Vale do Guadiana (3:18)
3. Desaire (Afonso Pais / Joana Espadinha + Joana Espadinha + João Firmino - Parque Natural de Montesinho (5:45)
4. Desde Sempre - Parte I (Afonso Pais) + Albert Sanz - Parque Nacrional da Penêda Gerês (5:08)
5. Lisboa Antiga (Afonso Pais / Luisa Sobral) + Luisa Sobral + António Castelo + João Vasconcelos (AcidNature) - Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (3:02)
6. Tema Para a Rita (Afonso Pais) + Rita Maria - Parque Natural de Sintra-Cascais (3:14)
7. Pode Ser (Afonso Pais) + Joana Espadinha - Parque Natural de Montesinho (5:03)
8. Dos Últimos Dias (Afonso Pais) + Albert Sanz - Parque Nacional da Penêda Gerês (9:32)
9. Desde Sempre - Parte II (Afonso Pais / Joana Espadinha) + Albert Sanz + Joana Espadinha - Parque Nacional da Penêda Gerês (2:32)
10. Dom do Indizível (Afonso Pais) + Beatriz Nunes - Parque Natural do Tejo Internacional (4:16)
11. Knochenfisch (Afonso Pais) + Rita Maria - Parque Natural do Vale do Guadiana (6:21)