BIOGRAFIA
O grupo Mini-Pop esteve na origem dos Jáfumega. Os Mini-Pop, quarteto de adolescentes onde pontificavam os irmãos Barreiros (Mário, Eugénio e Pedro), chegaram a fazer algum furor nos anos 70, em Portugal.(1)
Oriundos do Porto, os Mini-Pop gravaram alguns discos de sucesso como "Era Uma Casa Muito Engraçada". Os músicos do grupo foram adquirindo formação musical na área do Jazz e decidiram dar corpo a um novo projecto musical que baptizaram com o nome de Jáfumega.
Para isso, ao núcleo dos irmãos Barreiros juntaram-se o saxofonista José Nogueira e o baterista Álvaro Marques, para além do cantor Luís Portugal.
Em 1980 editam o seu primeiro trabalho, totalmente cantado em inglês e, singelamente intitulado "Estamos Aí". Neste trabalho já é possível ver algumas das pistas que irão ser exploradas em futuros trabalhos da banda.
As vocalizações são repartidas entre a voz aguda de Luís Portugal e a voz grave de Eugénio Barreiros. O tema mais conhecido deste disco, gravado com poucos recursos e com uma prensagem deficiente, é "There You Are", que chegou a ter algum "airplay" no programa "Rock em Stock", de boa memória.
Em pleno Boom do Rock português o grupo decide cantar em português e obtém um estrondoso sucesso com o single "Dá-me Lume", que contém o reggae "Ribeira", no lado 2. Este tema, cujo refrão andava na boca de toda a gente ("A ponte é uma passagem, p'rá outra margem..."), transforma os Jáfumega num dos grupos mais solicitados para concertos em todo o país.
Não é por isso de estranhar que, em Janeiro de 1982, o grupo se apresente ao vivo na cidade da Guarda, onde proporcionou um espectáculo inesquecível, não só pela qualidade da sua música, mas porque Luís Portugal estava doente e não pode estar presente. Eugénio Barreiros substituiu-o nas vozes e ouvir a "Ribeira" na voz potente de Eugénio fica na memória.
Pouco tendo a ver com o Rock português os Jáfumega tinham no seu line up alguns dos melhores músicos portugueses, disso não havia dúvidas.
O regresso da banda dá-se com o LP "Jáfumega" que inclui "Latin'américa" e "Kasbah". Extremamente bem produzido e bem tocado, o álbum é muito bem recebido pela crítica e pelo público.(2)
Em 1983 o grupo edita o seu último trabalho de título "Recados", subdividido em "Recados da Cidade" e "Recados do Campo". Temas como "Romaria" ou "La Dolce Vita" revelam-se sucessos na rádio, mas não trazem ao grupo grandes proveitos comerciais, pelo que a banda se dissolve em 1984.
[Em Junho de 1985 ainda é anunciada a intenção da banda lançar um novo disco, "São João Brejeiro", para o qual já tinham vários temas.]
Recordados com grande saudade por todos aqueles que os viram e os ouviram, os Jáfumega, dignos representantes da boa música portuguesa, são hoje colocados na galeria dos clássicos...
ARISTIDES DUARTE / NOVA GUARDA
Curiosamente, os Jáfumega não começaram por gravar em português. A primeira edição da banda foi em inglês, mas a grande notoriedade junto do público só se conseguiu um pouco depois, na Primavera de 1981, com "Ribeira", uma canção inspirada pela zona ribeirinha do Porto que fez um sucesso estrondoso na rádio. Mas, os Jáfumega tiveram a particularidade de já serem bem conhecidos mesmo antes da primeira edição em vinil, "Estamos Aí", em 1980. Tinham um público fiel, conquistado nos concertos ao vivo, desde há alguns anos. "Fazíamos para aí uns 100 mil quilómetros por ano, já tínhamos concertos em Espanha, mesmo antes de sequer termos editado qualquer disco", aponta o ex-baterista Álvaro Marques.
Os Jáfumega duraram seis anos, durante os quais editaram três álbuns e um single, todos de reconhecida qualidade e maturidade musical. A banda dissolveu-se, porém, num momento em que tinham praticamente todo o material pronto para gravar um novo álbum. "A questão essencial é que [depois da edição de "Recados", em 1983] já tinha passado o 'boom' e toda aquela euforia das editoras. Já não queriam gravar tudo o que lhes era proposto e começaram a surgir exigências de comercialismos fáceis e imediatos com que nunca tínhamos pactuado e com os quais não iríamos passar a compactuar", afirma José Nogueira.
Mário Barreiros explica também que a "suspensão" dos Jáfu'mega se deveu ao facto de "começar a tornar-se difícil juntar todos para os ensaios": "Já andávamos a ensaiar por sectores e cada um começava a seguir rumos muito diferentes, até musicalmente. Chegou um momento em que a situação se tornou óbvia". Outro dos irmãos Barreiros, Pedro, recorda que os Jáfu'mega "nunca foram um grupo temerário": "a banda sempre viveu muito dos ensaios, do trabalho conjunto e era só nesse sentido que os Jáfu'mega faziam sentido". Eugénio Barreiros vai ainda mais longe: "Os Jáfu'mega eram aqueles seis músicos, juntos, naquela altura. Foi apenas um episódio na longuíssima história musical de qualquer um de nós". Todos parecem partilhar este entendimento, parecendo quase impossível alguma vez se vir a assistir a uma reunião dos Jáfu'mega. "Só se for para um concerto pela paz" brinca Eugénio Barreiros. Como afirma José Nogueira, "nenhum deixou de ser músico, nenhum parou, não ficou nenhum fio solto no qual pegar outra vez, não ficou nada lá solto para se pegar agora".
DULCE FURTADO / PÚBLICA, 14/11/1999
(1) Durante 10 anos gravaram 7 singles e participaram em cerca de 300 espectáculos.
(2) Algumas das letras do disco tem a assinatura de Carlos Tê. Nesse ano, o grupo participou no festival Vilar de Mouros.
DISCOGRAFIA
Estamos Aí (LP, Metro-Som, 1980)
Jáfumega (LP, Polygram, 1982)
Recados (LP, Polygram, 1983)
Jáfumega (compilação, Polygram, 1990)
SINGLES
Dá-me Lume/Ribeira (Single, Metro-Som, 1981).
Running Out/Zugueira (Single, Metro-Som, 1982).
There You Are/My Daddy's Rock (Single, Metro-Som, 1982)
Latin'América/Nó Cego (Single, Polygram, 1982)
La Dolce Vita/Romaria (Single, Polygram, 1983)
COMPILAÇÕES S.E.
O Melhor de 2 - Taxi/Jafu'mega (Compilação, Universal, 2001)
COMENTÁRIOS
Existiu pouco tempo entre os dois [Mini Pop e Jafu-Mega]. Havia muita necessidade de fazermos música original, depois daqueles anos a tocar versões e a trabalhar nesse sentido. Conhecemos pessoas que gostávamos, como o António Pinho Vargas e o José Nogueira, e participávamos nas 'jams' da Cooperativa Árvore. Eram sessões onde apareciam muitos músicos do Porto, o Vítor Rua, o Jorge Lima Barreto, o Rui Reininho... (...) Passado pouco tempo, organizámos um grupo, os Jafúmega, com o baterista dos Psico e com o António Pinho Vargas e o José Nogueira que tocavam nos Abralas [grupo de jazz-rock instrumental]. Foi uma simbiose entre três grupos. Mário Barreiros / Luso Beat
Naquela época, fizemos tudo o que era possível fazer. E, em minha opinião, deixámos coisas intemporais. Por outro lado, o mercado não tinha a abertura que tem hoje e os membros do grupo, excelentes músicos e executantes, sentiam a necessidade de experimentar coisas diferentes. Assim, optámos por uma pausa temporária mas, infelizmente, a paragem foi fatal. Luís Portugal / Clix Porto 2001
NO RASTO DE...
Luís Portugal: Cinco anos depois do fim do grupo não resistiu ao apelo do coração e regressou às lides musicais, fazendo parte do Sexteto de Carlos Araújo, projecto de curta duração que deu lugar ao grupo Luís e os Vandidos. Após alguns estudos de marketing, chega à conclusão que o nome de Luís Portugal resultava melhor em termos comerciais, pelo que o disco "Coisas Simples", editado em 1992, "um trabalho um pouco naif e ingénuo", surgiu em nome próprio. Um disco que, sendo pouco linear, tinha o condão de misturar rock com música tradicional portuguesa. Seguiu-se "Alta Vai A Lua", em 95, onde faz uma recolha de música tradicional, canta temas de Natal e dos Reis e experimenta uma nova vertente para a sua música. Lançou um disco ao vivo onde dá voz a temas intemporais da banda que lhe deu maior visibilidade, como "Ribeira", "Latin'America" ou "Nó Cego". "Ainda bem que fui eu a dar voz a esses temas. Regozijo-me com isso, mas não nego que me distanciei do que fazia naquela altura". (texto de J. M. Simões/ JN)
Mário Barreiros além de tocar com o seu Sexteto de jazz é um dos mais conceituados produtores da actualidade (Pedro Abrunhosa, Clã, Ornatos Violeta, Silence 4, Santos & Pecadores, ...). É o proprietário dos Estúdios MB, situados em Canelas.
Álvaro Marques trocou os pratos e as baquetas pela vida de empresário e tomou por rumo a profissão de engenheiro. (Pública/99)
Eugénio Barreiros abraçou o ensino e é na Escola de Jazz do Porto que lecciona piano e expressão em canto, para além de ir aqui e além fazendo música para genéricos e projectos de dança. (Pública/99)
Pedro vai dando "uns toques num hotel, com um pessoal amigo", dá aulas de baixo, e trabalha numa loja de instrumentos musicais do Porto. (Pública/99)
José Nogueira - O saxofonista que vinha do jazz antes de integrar os Jáfumega, regressou ao jazz. Tornou-se cúmplice por excelência do pianista António Pinho Vargas, quer como músico quer como produtor. Não se desligou da loja de instrumentos musicais, negócio de família antigo, e desempenha desde há alguns anos as funções de consultor da Fundação de Serralves na área do jazz. (Pública/99)