«A editora Ama Romanta surgiu, em Lisboa, na passagem da primeira para a segunda metade da década de oitenta e foi posta em marcha por João Peste, carismático vocalista dos Pop Dell'Arte, que pretendia lutar contra a censura camuflada que rádios e editoras infligiam sobre a música feita em portugal, motivada também pela crise do rock português, depois do 'boom' do início da década.
O objectivo era reunir um conjunto de bandas independentes e editá-las, surgindo daí um movimento de Música Moderna Portuguesa, com liberdade criativa e estética, que reuniu um conjunto de pessoas ímpar, que formaram a denominada "geração ama romanta", que marcou definitivamente a música portuguesa de 1985 a 1991, pela rebeldia, originalidade e irrequietude demonstrada pela maior parte dos seus artistas.»
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«A Ama Romanta continua viva e interessada na divulgação do que de melhor se vai fazendo no campo da moderna música portuguesa e consciente da sua importância e papel de vanguarda face a um mercado discográfico atrofiado pela miopia cultural e pela obsessiva maximização fácil do lucro.»
Ama Romanta, Novembro de 1987
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Em Maio de 1986 foi editada a dupla-colectânea "Divergências" que agrupava várias bandas mais ou menos reconhecidas: Pop dell'Arte, Mler Ife Dada, Anamar, Essa Entente, entre outras. Ainda em 1986 foi editado o Máxi-single "L'Amour Va Bien, merci" dos Mler Ife Dada. Para 1986 esteve ainda prevista a edição da banda sonora do filme "Repórter X" de José Nascimento com música de António Emiliano e participação de Anamar, Sérgio Godinho e Rui Reininho. A editora marca presença no Forum Rock Creátion, o que se repetiria nos anos seguintes.
Em 1987 são editados vários trabalhos dos Pop dell'Arte: o máxi "Querelle", o single "Sonhos Pop" e o LP "Free Pop". As outras edições deste ano foram "Amar por Amar" de Anamar e o single dos Cães Vadios. Foi neste ano que a editora se estreou na organização de concertos, como o concerto dos ingleses Bourbonese Qualk e a festa de aniversário da editora onde se estrearam ao vivo os SMGTV!.
Em 1988, o catálogo da editora abre-se a outros estilos de música que não o pop-rock. São editados os discos "Pipocas" do projecto PSP, "Breaker" de Sei Miguel, "Bel Canto" do francês Pascal Comelade, "Cameratta Electronica" de Telectu e ainda os registos de estreia de Linha Geral, Mão Morta, Tó Zé Ferreira e Nuno Canavarro. A festa do segundo aniversário contou com a presença de Mão Morta, Pop dell'Arte, Tó Zé Ferreira, Membranes, entre outros.
Em 1989 são editados os discos "Songs Against Love and Terrorism" de Sei Miguel, "Ilogik Plastik" dos Pop dell'Arte e "Free Terminator/Falcão Solitário Sem Ser Distorção" dos SMGTV!. A festa de 3º aniversário contou com a presença dos Pop dell'Arte e Sprung Aus Den Wolken.
Em Janeiro de 1990 foi editado o álbum "The Blue Record" de Sei Miguel. Em Fevereiro foi lançada a compilação "Ama Romanta 86-89" com temas dos discos editados anteriormente. Em Julho foi lançado um Máxi-single de João Peste & O Acidoxi Bordel".
Estiveram ainda previstas a edição de "Coração Felpudos" dos Mão Morta (disco que foi lançado pela Fungui), o segundo álbum dos SMGTV!, M'As Foice, Rodrigo Amado/Luís Desirat e Censurados (editado pela El Tatu). Quanto ao disco de "João Peste & O acidoxi Bordel" estava previsto inicialmente a edição de um álbum mas passou a Máxi-single após a saída de Jorge Ferraz Martins.
Em 1991 foram lançados em CD os álbuns "Free Pop" e "Arriba Avanti!" dos Pop dell' Arte.
A Ama Romanta passou a estar integrada na Variodisc, na esperança de se tornarem mais fortes. João Peste referia que continuava ligado à edição de discos mas de uma maneira diferente. São editados o Mini-Lp "More More More" dos More República Masónica, "Ready Made" dos Pop dell'Arte e "Mimesis" dos Telectu.
Em Março de 1994, o jornal Blitz noticiava que a Ama Romanta (dirigida na altura por João Peste, Luis San Payo e Amândio Bastos) estava a preparar uma colectânea para marcar o seu regresso ao mercado. A colectânea iria incluir inéditos de Pop dell'Arte e Croix Sainte, temas já editados pela editora e inéditos de novos projectos como Boss AC e Veludo 038 (projecto de um Amen Sacristi).
Em Setembro de 1994, a Ama Romanta foi a representante de Portugal no Festival BAM, em Barcelona e os Pop dell'Arte actuaram no palco principal do festival.
A editora tinha encetado negociações com a EMI-VC para o lançamento do álbum "Sex Symbol". O disco iria sair pela Ama Romanta com distribuição da EMI-VC mas acabou por ser editado, no ano seguinte, pela Polygram. O pacote negociado com a EMI-VC previa ainda a edição da compilação "Ama Romanta Sempre" com projectos editados anteriormente pela editora (Pop dell'Arte, Mão Morta, Mler Ife Dada ou Croix Sainte), o tema "Nu Ar" dos Mler Ife Dada e ainda o projecto Peter PanPan (de Pedro Alto, Zé Pedro Moura e Miguel Costa).
Em Fevereiro de 1999, a editora Música Alternativa reeditou em CD os álbuns "Free Pop" e "Arriba! Avanti!" dos Pop dell'Arte e lançou a compilação "Ama Romanta...Sempre!" (alinhamento mais abaixo). Em Abril de 2000, a mesma editora reeditou o álbum "Ready Made" dos Pop dell'Arte e o máxi-single homónimo de João Peste & O Acidoxi Bordel.
ENTREVISTA A JOÃO PESTE (MUSICNET 1999)
P: A Ama Romanta teve um papel decisivo no que em Portugal, e mais propriamente em Lisboa, se passou há cerca de dez anos atrás. Achas que uma Ama Romanta nos mesmos moldes faria sentido hoje?
JP: Costuma-se dizer "a história repete-se". É uma frase feita mas eu acho que sinceramente a história não se repete nunca. As coisas podem voltar a fazer sentido num contexto novo mas esse sentido também é novo.
P: Quais achas que foram os principais factores de "sucesso" na altura?
JP: Eu diria antes quais foram os principais factores de insucesso já que não se pode dizer que a Ama Romanta tenha sido um sucesso em termos de vendas. Mas estou a ser um bocadinho rigoroso demais. A verdade é que algum sucesso houve, porque alguns dos grupos que a AR lançou tiveram algum impacto social e cultural no meio musical português assim como - e eu só pude constatar isso agora com as reedições em CD das gravações dos Mler Ife Dada, da Anamar, ou de grupos como os Essa Entente, os Linha Geral, os Santa Maria Gasolina em Teu Ventre ou projectos mais alternativos como o Sei Miguel, o Tozé Ferreira ou o Nuno Canavarro, coisas que até 1999 não existiam em CD e que estavam esgotadas em vinil - eu constatei que as pessoas estavam bastante receptivas a ouvir essas coisas que já tem uma boa dúzia de anos em cima. Na rádio pegaram naquilo como se fosse uma coisa nova e talvez as críticas mais simpáticas que fizeram aos discos foi uma frase do tipo: "afinal os melhores discos deste ano já tem uns anos em cima". [A Ama Romanta] era um projecto suicida à partida.
P: Por que é que a Ama Romanta acabou?
JP: Primeiro, a AR nunca acabou. Eu acho que nunca disse isto numa entrevista mas na altura fomos aconselhados por uma pessoa reconhecida no meio musical português, creio que com a melhor das intenções, a fazer a distribuição dos discos da A.R. através de uma distribuidora ligada a pessoas da Vidisco. O que aconteceu é que tanto em relação a essa pessoa, que também tinha um catálogo para distribuir, como a mim, as contas não foram bem feitas. Os discos foram vendidos e nunca nos foram pagos. O que criou uma situação complicada para uma pequena editora independente como era a AR. E isso aconteceu com outras editoras. E portanto, houve a decisão de parar com as edições mas, não se acabou com a AR. Sem ser um pouco sebastanista não é impossível que a AR regresse numa de manhã de nevoeiro e volte a editar discos ou outra coisa qualquer.
P: Achas que esta colaboração com a Música Alternativa pode fazer reaparecer a AR?
JP: Acho que sim. Em determinado sentido a MA pode cobrir o papel que a AR desempenhava. Agora como um catálogo está mais ou menos falado com a MA ver-se como estão a funcionar estes novos lançamentos (a colectânea da AR e os Pop Dell'Arte) - e acho que está a correr minimamente bem - o que significa que haverá oportunidade da MA editar outras coisas do catálogo da AR e, da minha parte ou das pessoas que estão ligadas à AR desde o início, começar a surgir ideias de discos novos ou mesmo grupos novos.
Entrevista a João Peste (Musicnet, Abril 1999)
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EDIÇÕES
AMRO001 | Divergências - Vários | 1986 | 2LP |
AMRO002 | L’Amour Va Bien Merci - Mler Ife Dada | 1986 | Single |
AMRO003 | Querelle/Mai 86 - Pop dell’Arte | 1987 | Máxi |
AMRO004 | Cães Vadios - Cães Vadios | 1987 | Single |
AMRO005 | Amar Por Amar - Anamar | 1987 | Máxi |
AMRO006 | Sonhos Pop - Pop dell’Arte | 1987 | Single |
AMRO007 | Linha Geral - Linha Geral-------- | 1988 | LP |
AMRO008 | Free Pop - Pop dell’Arte----------- | 1987 | LP |
AMRO009 | Pipocas - P.S.P. (Projecto Som Pop) | 1988 | LP |
AMRO010 | Mão Morta - Mão Morta | 1988 | Mini-LP |
AMRO011 | Cameratta Elettronica - Telectu | 1988 | 2LP |
AMRO012 | Breaker - Sei Miguel | 1988 | LP |
AMRO013 | Música de Baixa Fidelidade - Tó Zé Ferreira | 1988 | LP |
AMRO014 | Plux Quba, Música Para 70 Serpentes - Nuno Canavarro | 1988 | LP |
AMRO015 | Free terminator - Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre! | 1989 | LP |
AMRO016 | Illogik Plastik - Pop dell’Arte | 1989 | Máxi |
AMRO017 | Song Against Love and Terrorism - Sei Miguel e os Santos da Casa FM | 1989 | LP |
AMRO018 | Ama Romanta 86/89 - Vários | 1990 | LP |
AMRO019 | João Peste e Acidoxi Bordel - João Peste e Acidoxi Bordel | 1990 | Máxi |
AMRO020 | Arriba Avanti! - Pop dell’Arte | 1990 | LP |
AMRO021 | The Blue Record - Sei Miguel | 1990 | LP |
AMRO022 | 2002/MC Holly - Pop dell'Arte | 1991 | Máxi |
ARI001 | Bel Canto - Pascal Comelade | ||
ARI002 | Kiss Ass... Godhead - Membranes |
Edições Variodisc/Ama Romanta
More More More - More República Masónica (1992)
Mimesis - Telectu (1992)
Ready Made - Pop dell'Arte (1993?)
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DIVERGÊNCIAS (2LP, AMA ROMANTA, 1986)
1 - Bastardos do Cardeal - Aranha
2 - Mler If Dada - L' Amour, Va Bien Merci
3 - Jorge Ferraz - Ó Foucault, O Que É Isso De Chamarem...
4 - Mário Morgado, Nuno Rebelo, Pedro Mourão - Situação Aparente
5 - Jovem Guarda - Sombra
6 - Paquete De Oliveira/João Peste - Entrevista
7 - Pop Dell´Arte - Máscara
8 - Os Cães a Morte e o Desejo - Elvis
9 - Mário & Peter - Duas Árvores
10 - Magudesi - Dança
11 - Anamar - Roda
12 - SPQR - Flow
13 - Croix Sainte - We Build Cities
14 - Nuno Rebelo - Nipsha
15 - Extrema Unção - Cenário
16 - Grito Final - Ser Soldado/ Bairro Da Fome
17 - João Peste - Dim
18 - Bye Bye Lolita Girl - Sem Palavras Para Ti
19 - Essa Entente - Lá Féria
20 - Linha Geral - Hino À Nossa Luta
«Divergências» é o resultado da convergência editorial de 14 bandas portuguesas e alguns intérpretes individuais que, em conjunto, autroproduziram um duplo LP, servindo-se de um estúdio de oito pistas, aí empenhando todo o seu engenho. Projectos e sons tão variados como os Mler Ife Dada, Croix Sainte, Pop dell'Arte, Essa Entente, Grito Final, Bye Bye Lolita Girl, Linha Geral, Bastardos do Cardeal, Extrema Unção, Magudési, SPQR ou Jovem Guarda, ou tão desconhecidos como Os Cães a Morte e o Desejo ou o duo Mário e Peter, reunem-se num disco que tem, no mínimo, a vantagem de dar a conhecer algumas das múltiplas directrizes da moderna música portuguesa. BLITZ 82 (27/5/86)
AMA ROMANTA...SEMPRE (2CD, CANDY FACTORY, 1999)
CD 1 01. Pop Dell' Arte - Sonhos Pop |
CD 2 01. Mão Morta - Oub'lá |
(capa do disco)
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A compilação "Ama Romanta...Sempre" reúne vinte e nove temas, ao longo de praticamente cento e quarenta minutos, divididos em dois discos, que nos conduzem por pedaços belos desses anos perturbadores, acabando por ser uma versão revisitada e ampliada de "Divergências", colectânea mítica lançada pela editora nos anos oitenta e apenas disponível em vinil. (Press-release) |
CURIOSIDADES
O grafismo da capa do disco "Divergências" é da autoria de Ondina Pires.
O disco de Nuno Canavarro, "Plux Quba - Música para 70 Serpentes", foi reeditado em 1999 pela editora norte-americana Moikai, tendo recebido excelentes críticas da imprensa especializada.
O LP de Tó Zé Ferreira foi reeditado em CD pela Plancton, numa versão restaurada e remasterizada digitalmente, com duas faixas extra e uma versão alternativa.
A compilação "Ama Romanta...Sempre" inclui apenas 12 temas da colectânea "Divergências". Bye Bye Lolita Girl, Jovem Guarda, Bastardos do Cardeal e SPQR são alguns dos nomes que não foram englobados nessa edição.
"Fizemos os primeiros contactos com uma editora, portanto a AMA ROMANTA em 87, ficámos um ano à espera de gravar, à ... " Adolfo Luxúria Canibal em "Entulho Informativo"
No livro "Os Melhores Álbuns da Música Popular Portuguesa 1960-1997", edição Público/Fnac, são incluídos os discos "Divergências", "Free Pop", "Mão Morta", "Música de Baixa Fidelidade", "Plux Quba, Música Para 70 Serpentes" e "Free terminator".
COMENTÁRIOS
Nuno Leonel (...) foi um dos nomes mais importantes para a Ama Romanta. O Nuno Leonel fez várias capas para a AR, incluindo a capa deste novo "Ama Romanta Sempre". JP/Musicnet