Consagrados no lento entardecer do Verão de 2004, os Archétypo 120 viram a sua existência prolongar-se até aos idos de 2015, altura em que o silêncio se verbalizou como única forma de expressão possível...
Longos foram esses 11 anos, polvilhados de encontros e desencontros, de concertos e participações em compilações, entrevistas e artigos em livros e fanzines, quer nacionais, quer de outras paragens... Nesse ínterim, expuseram-se através de três registos, dois ao vivo e um de estúdio, tendo ainda procedido à gravação de um outro que, infelizmente, ficaria num limbo físico e emocional durante quase uma catorzena de anos, contando os grãos de areia que escorriam por entre as marcas do tempo...
São precisamente esses cânones - tornados Verbo criador através dos lavores dos seus dois mentores, António Macedo e Paulo Coimbra Martins - que nesta edição se partilham, e que tingem este duplo fonograma com memórias e espaços a descobrir.
Descerrado foi o véu, há 20 anos atrás, que descobriu o encanto e a arte deste projecto - efeméride essa que, aliás, esta manifestação celebra... E quase uma década se teceu desde que, definitivamente, caiu o pano sobre o seu acto e as suas personagens ganharam uma vida ulterior a pincelar telas de outras paisagens, de outros lugares, de outras cores, de outros sons...
Fica, portanto, esta obra como o repositório fiel de todo um acervo de canções que confia a sua guarda ao esforço conjunto da Anti-Demos Cracia e da Pós-80's, sob o atento e vestusto olhar das feéricas luas outonais...
Arquétipo 120
Onze anos… onze longos anos durou a vida dos Archétypo 120, do o Verão de 2004 à Primavera de 2015, quando finalmente definhou…
Realmente durou “até ao nosso último suspiro…”
Contudo, o fim só se concretizou quando conseguiram pavimentar o seu próprio caminho, oferecendo ao público mais de trinta concertos, tocando para centenas de pessoas e em vários locais diferentes (um facto que constitui uma experiência verdadeiramente surpreendente para um projecto tão pequeno e underground como este, sobretudo durante estas últimas décadas no Portugal de hoje). Estes incluíram um concerto de abertura para a banda sueca The Exploding Boy, em 2013, bem como conversas anteriores sobre o desempenho das mesmas funções para o grupo de culto australiano Ikon, na sua planeada passagem meteórica por este país (infelizmente, a sua digressão foi cancelada).
Este rasto de lágrimas levá-los-ia a Lisboa, Leiria, Porto, Trofa, Maia, Braga e, claro, a Guimarães - berço que os viu nascer…
A sua imagem de marca seria também tornada pública através de muitas entrevistas, artigos e críticas, publicados em blogues, fanzines, jornais, newsletters e livros (incluindo a Bíblia Gótica «Music To Die For» de Mick Mercer de 2009, e «La Croche Lune (Musiques Émotionnelles - Mouvement Gothique)» de David D'Halleine de 2011, entre outros), tanto no país como no estrangeiro.
Para além disso, seriam também objecto de interesse de vários programas de rádio, não só em Portugal (nomeadamente «Santos da Casa», «Sem Regras» ou «Indiegente») mas também em países como a Polónia, França ou Bélgica (que foram incluídos na compilação semi-oficial de 2013 «Radio Broadcasts»), para além de terem sido incluídos em set-lists de vários DJ’s de todo o mundo. Além disso, o ano de 2009 viu-os incluídos, com a canção «Dance», na banda sonora de «O Evangelho de um Assassino», um filme brasileiro em stop-motion produzido pela Submundo Alternativo, enquanto em 2012, o conceituado artista belga Christophe Szpajdel (conhecido por The Lord of the Logos) elaborou o símbolo da banda. Agora que a apresentação está feita, vamos contar uma história… “Era uma vez, há muito tempo”, um grupo de jovens teve a ideia de formar uma banda. O ano era 1987 e vinha encapsulado na forma dos Anomeos, que contavam já com António Macedo e Paulo Coimbra Martins (que foi aliás o impulsionador deste conceito). Em 1989, evoluíram para os também efémeros Restos Mortais de Isabel, forçados a terminar em 1991.
No entanto, parece que as estrelas escreveram ainda outros grandes projectos… Então o tempo semeou a sua teia e 1999 viu tomar forma a ideia de uma segunda vaga do projecto, com a intenção não só de manter e retrabalhar as músicas antigas, mas, mais importante ainda, criar novas. No entanto, e por motivos pessoais, a banda manteve apenas dois dos seus anteriores membros fundadores, um período que aliado a uma abordagem sonora diferente (principalmente devido ao uso de computadores e novas tecnologias), amadureceu os Archétypo 120 para a ação.
Baptizado, inicialmente, como Kali Ashti (2004-2005), e depois rebaptizado com a denominação de curta duração Auto de Fé, em agosto de 2006 surgiu a primeira forma do seu nome mais duradouro, cativante e conhecido: Arquétipo (a grafia portuguesa daquele que viria a ser o definitivamente adoptado). Não durando tanto tempo (em Dezembro já tinha chegado ao fim), foi, no entanto, sob essa bandeira que o seu primeiro álbum - «Obsession» - foi gravado e produzido sob a batuta de Pedro Morcego e David Reis (que também deu uma mão em alguns instrumentos, conforme descrito nos créditos de Tomo I), à medida que os seus cartões de apresentação anteriores foram disponibilizados.
No ano seguinte, e já estabelecido como Archétypo 120, este primeiro trabalho foi lançado em CD (embora apenas numa edição limitada de 20 cópias), juntamente com uma promoção online de duas faixas para download gratuito (incluindo «Angel’s Fall» e «Heartache And Death»).
Graças a estas acções promocionais, durante o primeiro trimestre de 2008 conseguiram um primeiro concerto, que foi gravado e com lançamento previsto para o mesmo ano através da net-label Enough Records.
Baptizado como «First Whispers - Live at Plano B, Porto, 20/03/08», o disco teve ainda uma edição física (embora limitada a apenas seis exemplares) e já incluía dois temas que se pretendiam integrar no próximo álbum previsto. Todos estes três primeiros lançamentos contaram com artworks das mãos de Miguel Araújo.
No final de 2009, Pedro Fonte (baixista original - ver créditos) abandonou o projecto reduzindo assim a formação ao seu duo original básico, enquanto durante 2010 e 2011, Coimbra Martins foi ajudado por Francisco Vaudeville (no baixo) em alguns dos concertos ao vivo.
Fevereiro de 2011 deu as boas-vindas ao relançamento de «Obsession» (embora apenas como uma edição de download gratuito de nove faixas) através da editora electrónica MiMi Records, como prelúdio para as sessões de gravação que se realizariam em breve em Julho, focadas quase inteiramente no seu segundo álbum (sendo a exceção mais notável o já notável favorito ao vivo «Say It Again»). Pretendido para ser gravado como «Lugares Incomuns/Uncommon Places», conteria 15 canções, todas de autoria própria. Nessa mesma altura, a banda recebeu um novo membro permanente no baixo e na electrónica ao vivo, Luís Lisboa.
Foi com ele que - em duo - o projecto tocou com o já referido The Exploding Boy, em 2013. Este concerto deu origem a uma nova gravação ao vivo, tornada pública sob o título «As It Has Ever Been (Re-Celebrating Live At Plano B» e lançado em edição própria em 2014.
No entanto, devido ao cansaço e desinteresse de todas as partes envolvidas, os Archétypo 120 decidiram terminar em 2015. Apesar das músicas de 2011 ainda estarem em fase de produção (ou na falta delas); que estavam a ser construídos alguns novos esboços de títulos para criar um novo capítulo (com um deles, «Alquimia» - cantado em castelhano - já concluído); e que um EP de versões estava a caminho (com regravações de «Nightmares» dos A Flock Of Seagulls, «The Darkest Skies» dos Phantom Vision, «Heart And Soul» e «Isolation» dos Joy Division, e o já referido de Danse Society - pelo menos, pois havia planos para mais alguns -, a chama que mantinha este fogo vivo já estava completamente reduzida a brasas…
E assim chegou o ano de 2024, duas longas décadas após o início desta história, e assim surgiu a ideia de disponibilizar todas as gravações que chegaram ao éter (com pouquíssimas excepções) se transformaram em realidade, fruto de um empreendimento conjunto acordado entre as editoras indie Pós-80 e Anti-Demos-Cracia: «Falsafa», um CD duplo que encurta uma longa história e responde às preces de muitos devotos fiéis… Uma verdadeira peça de colecção.
TOMO I
As faixas 1 a 10 são retiradas do álbum de estreia «Obsession», editado pela própria banda em 2006 (ainda que inicialmente como demo de apresentação do Arquétipo, antes da definição do nome definitivo, e sem qualquer artwork) (limitado a 20 cópias). Reeditado pela editora electrónica MiMi Records em 2011 (embora sem a faixa 10), as gravações completas foram novamente disponibilizadas em formato físico em 2012, e com o mesmo alinhamento da primeira edição (também limitada, mas a 50 cópias).
As faixas 2 e 5 foram também utilizadas como promoção de duas faixas para download gratuito em diversos blogues e páginas da internet, aquando do lançamento do álbum.
A faixa 8 foi incluída na compilação de vários artistas «Vita Ignes : Corpus Lignum - Winter Solstice MMX», através do blogue americano Vita Ignes, em 2010.
A faixa 9 surgiu na compilação em CD de vários artistas «Porquê?», através da editora portuguesa Zona 22, em 2021. Na verdade, foi a música dos Archétypo 120 que acabou por inspirar o baptizado do sampler.
A faixa 10 apareceu na compilação de vários artistas «Vita Ignes : Corpus Lignum Winter Solstice MMXI», através do blogue americano Vita Ignes, em 2011.
A faixa 11 estava anteriormente apenas disponível na compilação de vários artistas «D’Eux» de 2010, da editora francesa Fatal Object - remisturada exclusivamente por M. (Marcel Tessier-Caunes).
A faixa 12 faz parte do terceiro álbum da banda «As It Has Ever Been (Re-Celebrating Live At Plano B)», editado pela própria banda em 2014 (e limitado a 50 cópias), com Luís Lisboa no baixo e electrónica ao vivo.
Todas as faixas escritas por António Macedo e Paulo Coimbra Martins.
TOMO II
Todas as faixas foram retiradas do que deveriam ser as sessões de gravação do segundo álbum de estúdio. Batizadas, desde o início, como «Lugares Incomuns/Uncommon Places», as sessões de gravação decorreram em Julho de 2011, ocupando apenas alguns dias, na casa-estúdio de António Macedo, no Algarve. O resultado aqui apresentado consiste numa coleção variada de demos e out-takes, com metade das faixas a beneficiar de algum tipo de produção enquanto as restantes ainda permanecem intocadas pelas mãos da produção, e são aqui mostradas como declarações cruas do que poderá ter sido…
A faixa 2 apareceu na compilação de vários artistas dos Anti-Demos-Cracia «33 Years Of Carrying It On», disponibilizada em 2019. Lançada em fita (e também em download gratuito disponível no Bandcamp da editora), tornou-se a legítima esposa ao livro de edição limitada «Como Não Chegar Sequer A Lado Nenhum.
Uma Auto-Biografia Que Não Irá A Lado Nenhum (A Primeira Auto-Biografia De Alguém Que, De Facto, Não Chegou A Lado Nenhum Na Música)» (ambos limitados a apenas 33 exemplares).
A faixa 5 foi incluída na compilação de vários artistas da Anti-Demos-Cracia «Ventos Acinzentados», lançada em 2015 e também disponível para download gratuito no Bandcamp da editora. Neste sampler, a música é partilhada como «Finisterra», a forma atual do termo original em latim Finis Terræ.
A faixa 6 fez parte da compilação de vários artistas «Z Vinte E Dois», editada em 2019 pela editora Zona 22.
Todas as faixas de António Macedo e Paulo Coimbra Martins.
Todas as músicas de António Macedo (programação, guitarras eléctricas e portuguesas, baixo, teclados, electrónica ao vivo) e Paulo Coimbra Martins (voz, letras e textos, guitarras eléctricas, semi-acústicas e portuguesas, programação, melódica, baixo, electrónica ao vivo, percussão).
A formação da banda incluiu ainda:
Pedro Fonte (2004-2009): baixo
Luís Lisboa (2011-2015): baixo e eletrónica ao vivo. Numa versão nunca gravada, mas tocada ao vivo nos últimos concertos, de mais uma música dos Joy Division, «She’s Lost Control», pré-gravou a guitarra principal e fez toda a programação utilizada como pano de fundo durante os concertos ao vivo.
Os A120 foram também auxiliados por Francisco Vaudeville no baixo, em alguns concertos ao vivo de 2010 e 2011.
Durante o ano de 2005, e ainda sob a bandeira da Kali Ashti, uma voz feminina - que nos foi oferecida por Carla Gomes - foi também parte do som original, mas, infelizmente, nunca foi incluída em nenhuma gravação.
«Obsession»
António Macedo, Paulo Coimbra Martins e Pedro Fonte. Gravado por David Reis e Pedro Morcego, no estúdio caseiro de David Reis, na Quinta do Conde (Sesimbra) e produzido por Pedro Morcego (com a assistência de Paulo Coimbra Martins) nos Batcave Studios, na Amadora, durante o Verão de 2006. Também com contributo criativo de David Reis (slap-bass em «Drifting» e percussão em «Heartache And Death») e Pedro Morcego (baixo em «Too Much», «Heartache And Death» e «Angel's Fall», backing vocals em «Sedução», e arranjos gerais e baixos por todo o lado…).
«Lugares Incomuns/Uncommon Places»
Todos os instrumentos de António Macedo e Paulo Coimbra Martins. Todas as letras são da autoria de Paulo Coimbra Martins.
«Falsafa»:
Masterização de áudio por Pedro Morcego
Artwork de Carlos Paes
Textos de Paulo Coimbra Martins
Um agradecimento muito especial quer ao André Carneiro (Pós-80), quer ao António Caeiro (Anti-Demos-Cracia) por terem demonstrado interesse no lançamento destas gravações.
Outro agradecimento especial é dirigido a Carlos Paes pelo seu artwork.
A nossa gratidão estende-se também a Pedro Morcego, não só por nos ter possibilitado a gravação do nosso primeiro conjunto de músicas, mas também por retrabalhar tanto elas como as estreantes, de forma a melhorar o resultado final da sonoridade desta coleção.
Estamos também em dívida para com Júlio Oliveira (Zona 22), Paulo Silva (Subterrâneo de Portugal), Carla Paula Gonçalves, Fernando Aires e David Reis por todo o apoio e trabalho.
A título pessoal, gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer a todos os acima mencionados por todos os sinais de amizade demonstrados ao longo destes anos eternos. Também à Enough Records e à MiMi Records por acreditarem em nós e demonstrarem real interesse em disponibilizar o nosso trabalho. (Paulo Coimbra Martins).
Aproveitamos também para agradecer a todos os fotógrafos que partilharam connosco o seu trabalho ao longo dos anos, mas infelizmente, depois de todo este tempo, não conseguimos rastrear os seus nomes… E sem esquecer Miguel Araújo pelas primeiras capas do Archétypo 120 («Obsession Promo-CD», «Obsession», e «First Whispers: Live At PlanoB, Porto, 20/03/08».
In memoriam Paul Gilmartin (06/06/1961 - 06/08/2024) - Sit Tibi Terra Levis
Textos de Paulo Coimbra Martins
©2024 Anti-Demos-Cracia ( ADC128OUT2024)
©2024 Pós 80's (010OUT2024)
Formato: 2CD-Digisleeve + Livrete
Edição limitada a 120 exemplares
Masterização: Pedro Morcego
Design: Carlos Paes
lançado a 31 de outubro de 2024
lançado em 31 de outubro de 2024
https://www.adc-records.com/
1. Um Novo Sol (Tomo I) (5:10)
2. A Queda do Anjo (Tomo I) (3:11)
3. Dança (Tomo I) (4h40)
4. À Deriva (Tomo I) (4:02)
5. Mágoa e morte (como se fosse o último aniversário) (Tomo I) (4:40)
6. Nada a Perder (Tomo I) (6:24)
7. Sedução (Tomo I) (4:11)
8. Demais (Tomo I) (3:27)
9. Porquê (Tomo I) (5:52)
10. Angels Fall (Instrumental Version) (Tomo I) (3:11)
11. Angel's Fall (Extended Edition of M) (Tomo I) (5:04)
12. Nada a perder (versão ao vivo) (Tomo I) (6:24)
13. Desaparecer (Tomo II) (4:52)
14. Agora (Tomo II) (6:56)
15. Mentiras (Tomo II) (5:19)
16. Finis Terrae (Tomo II) (7:15)
17. Horas de Obscuridade (Tomo II) (5:03)
18. Inferno Privado (Tomo II) (4:31)
19. Desilusão (Tomo II) (4:34)
20. Melopéia (Tomo II) (4:32)
21. O amor adora odiar-me, mas eu odeio odiar o amor (Tomo II) (5:01)
22. Redenção (Tomo II) (5:52)
23. Nova Vida (Tomo II) (4:17)
24. Solipsismo (Tomo II) (4:21)
25. Nunca Mais (Tomo II) (3:51)