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É com canções, canções como «Um Dia a Mais» ou «Bom Dia Lisboa», canções que mostraram a possibilidade de uma música ao mesmo tempo popular e inteligente, que os Rádio Macau ganharam um lugar na cultura urbana portuguesa. É um lugar definitivo, pois para além das canções que continuaram a plantar na nossa memória colectiva durante os vinte anos passados sobre esse momento fundador, os seus concertos, onde a qualidade das composições é ampliada por interpretações dedicadas e enérgicas, mostram uma banda que vive da comunicação com o público e com quem este se relaciona, ou melhor, de quem o público se torna cúmplice. Esta espécie de magia está pronta para ser de novo libertada. Depois de um álbum, «Acordar», onde as guitarras continuam a marcar o som orgânico da banda de Xana, Flak, Alexandre Cortez e Filipe Valentim, seguem-se os concertos. Concertos que, como sempre com os Rádio Macau, são um momento de sublimação da vida e de celebração da música.

28 de Maio de 1983 é a data que os historiadores retêm, porque nessa noite o grupo apresentou, no Teatro Experimental de Cascais, o seu primeiro concerto como Rádio Macau. Um ano depois é editado o primeiro álbum de originais, onde sobressaem «Bom Dia Lisboa» e «Um Dia a Mais» - matrizes que uma mão cheia de álbuns posteriores estabeleceriam como a marca dos Rádio Macau – e um surpreendente bónus: uma versão de «O Comboio Descendente», o original de José Afonso, em que o grupo ousa contaminar a canção com a visão musical de uma nova geração, mostrando, no processo, que os Rádio Macau não eram uma banda estacionada na faixa de rodagem da facilidade e da vulgaridade.

Foi um início auspicioso que levou a um passo mais arrojado: a publicação, em Abril de 1986, do álbum conceitual «Spleen», produzido por Carlos Maria Trindade. Este disco é – por assim dizer – o prolongamento do máxi-single «A Vida Num Só Dia», um grande êxito na rádio desde a sua edição quase um ano antes. O arrojo de utilizar cordas e piano, de maneira nenhuma um hábito na música aparentada ao pop/rock produzida então em Portugal, gerou alguma controvérsia que não impediu porém a correspondência do público e de uma parte considerável da crítica.

Em Novembro de 1987 chega aos escaparates «O Elevador da Glória» e, com ele, canções hoje clássicas. Logo para começar a que dá nome ao disco, e ainda «O Anzol» ou «Cidade Fantasma». Depois de oito meses na estrada, regresso ao estúdio para, em Outubro de 1989, lançar «O Rapaz do Trapézio Voador». E com ele outra canção, «Amanhã É Sempre Longe Demais», para integrar o panteão de clássicos dos Rádio Macau. «A Marca Amarela», o primeiro álbum do grupo a atingir a marca de Disco de Prata, é publicado em Outubro de 1992.

Menos de um ano depois, os Rádio Macau anunciam a suspensão da sua actividade. Durante sete anos, Xana, Flak, Alexandre Cortez e Filipe Valentim dedicam-se a projectos individuais ou com outros músicos, até que, em Outubro de 2000, o colectivo regressa à vida com o álbum «Onde o Tempo Faz a Curva», onde arranjos e instrumentações ambientais apresentam os novos caminhos da sua música.

O ano passado trouxe um novo desafio para os Rádio Macau: regressar à sua raiz musical e compor, pela primeira vez, as letras dos onze originais que fazem «Acordar», publicado em Novembro e que agora começa a ser apresentado em espectáculos por todo o País, ombro a ombro com as canções clássicas e as interpretações únicas destes músicos a quem o tempo não retirou, antes amplificou o talento, a dedicação e a energia com que se entregam às canções sobre as tábuas de um palco.

TEXTO DE RUI MONTEIRO - FEVEREIRO DE 2004

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