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Entrevista: Music In Low Frequenc.

Music In Low Frequencies

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Entrevista com Damn Sessions

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Emissão em Direto (Sádado 12-15)

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Da prática da violência fisica espera-se, obviamente, que resultem danos igualmente fisicos. Do rock sabe-se que é um habitual frequentador das casas de saúde, apesar de não possuir nenhum cartão especial da providência que dê acesso aos hospitais. Apesar disso, «viver depressa, morrer jovem e ser proprietário de um cadáver com bom aspecto» não tem sido o lema dos rockers portugueses, mesmo sabendo que a sua história não é assim tão longa. A brandura dos costume faz com que não sejamos o berço de um escol de rapazes com a bravura de um Sid Vicious, ou bebêdos do calibre de Shanne McGowan dos Pogues. Mas também existem pontos altos e personagens que merecem capítulos inteiros.

O Rock no Hospital à portuguesa não é tanto resultado de caprichos histérico-egocêntricos dos nossos artistas do género, ou sequer de um narciscismo inusitado que chegue à auto-agressão. Quer dizer, não são tanto obra do artista como um reflexo das condições em que este pratica a sua arte. «Pobres e aleijados, mas honrados». Conquista-se assim um caráceter genuíno.

Para a lenda ficam aqui alguns factos, apurados atravês de uma breve e nada exaustiva recolha juntos dos intervenientes ou de fonte próxima. Uns têm graça, e se não chegam a elevar o estatuto cultural da nação também não fazem prova do isolamento e provincianismo reinantes. Quem quiser contar mais histórias, faça o favor de não se acanhar...

Os ferimentos mais vulgares e frequentes que se podem encontrar no rock não têm como protagonistas os músicos, mas o público que assiste aos seus espectáculos. Por vezes autênticos «artistas», o número de casos tem vindo a aumentar com a prática cada vez mais frequente (até nos concertos dos Sitiados) de «stage diving», «slam dancing», «pogo» ou «mosh», enfim, manobras do público para roubar aos artistas o protagonismo. Uma altura existiu em que, mais perigoso do que estar dentro do recinto do espectáculo, era permanecer no seu exterior. Foi caso de alguns concertos realizados antes e depois de 1974, em que as forças da ordem varriam grupos de rebeldes à bastonada e pontapé. São conhecidos as corridas de quinhentos metros barreiras em Cascais, desde o pavilhão do Dramático até à estação da CP (a polícia de choque e o COPCON zelavam pela segurança), do concerto dos Police no Estádio do Restelo, já nos anos oitenta, ou o mais recente caso verificado nos Açores, durante um concerto da Resistência, à porta do Coliseu Micaelense, numa festa do Partido Socialista, quando um alegado membro da Polícia de Segurança Pública, alvejou mortalmente um adolescente que pretendia entrar na sala juntamente com uma turba imensa portadora do respectivo Ingresso.

A missão pouco simpática de prestar segurança nos espectáculos tem levado também a actos de violência gratuita. Não só a P.S.P., mas também os elementos pouco qualificados contratados pelas empresas que produzem os espectáculos, são responsáveis por inúmeros actos de violência. Injustificada, muitas das vezes. A ponto de, no concerto dos Stranglers e Gene Loves Jezebel no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, os elementos do público que faziam «stage diving» e caíam no fosso que separa a assistência do palco serem pontapeados por um corredor de segurança até sangrarem abundantemente. Outro dos muitos casos registou-se aquando do concerto dos Gun Club, numa iniciativa intitulada «Jornadas do Império», que teve lugar no Monumental em Lisboa. As cenas de pancadaria entre seguranças e público foram bastas e um dos resultados foi o exagerado número de cadeiras partidas.

Por vezes são os próprios músicos que admoestam as forças responsáveis pela segurança, tomando partido pelo público. Célebre ficou o caso da actuação dos Rádio Macau em Alpalhão. Enquanto um membro da Guarda Nacional Republicana agredia um adolescente que assistia aos espectáculo defronte do palco, o baixista Alex interpôs-se entre agredido e agressor. A façanha valeu-lhe uma ida ao tribunal no dia seguinte. Com ele esteve muita da assistência do concerto que fez questão em estar presente na sessão para apoiar Alex. A sentença deu-o como inocente, e não provado o facto de ter existido agressão ao elemento da GNR. Também aos Sepultura, no concerto que teve lugar em Cascais, aconteceu' algo de semelhante. Um dos guitarristas chegou a lançar o instrumento de encontro aos seguranças que batiam no público. Os membros da banda brasileira, que agora, regressa a Portugal, chegaram mesmo a ser ameaçados pela equipa de segurança. Nada mais se registou, a não ser um elevado número de evacuados por razões que se prendem com embriaguez, consumo excessivo de drogas e outras lesões. Já neste ano da graça de 1993, mais precisamente a 13 de Março, o mesmo voltou a acontecer durante um concerto dos Mão Morta em Mirandela. O público invadia regularmente o palco -praticando «Stage diving» de uma forma hábil e lestá -pelo que era recolhido pelos membros da P.S.P. Um dos mergulhadores da multidão regressou ao recinto depois de uma breve estada na esquadra, por sinal bem perto do recinto do espectáculo, e queixou-se de ter sido agredido. Quando Adolfo Luxúria Canibal chàmou ao palco para relatar o sucedido, os membros da polícia tentaram expulsá-lo do estrado. Gerou-se uma certa confusão, com o envolvimento de membros da banda, que rapidamente alastrou ao resto da sala, gerando um pequeno motim. Tudo amainou quando as forças da ordem tomaram conhecimento das credenciais causídicas do vocalista dos Mão Morta...

Porém, público e artista nem sempre estiveram do mesmo lado. Logo no início do surto a que se chamou rock português, num concerto no pavilhão do Restelo promovido pelo programa de rádio «Rock em Stock», Carlos Peres, baixista dos UHF, abandonou a guitarra para se lançar sobre quem lhe tinha atirado com um copo de cerveja. Isto muito antes de Axl Rose andar a caçar fotógrafos no meio da assistência. Mas não foi o único. Zé dos Eclipses, quando guitarrista dos Mão Morta, pontapeou violentamente um rapaz que lhe segurava as pernas, manifestando desagrado pelo facto de não poder usar devidamente os pedais ligados à sua guitarra. Isto foi em Guimarães, aí há uns quatro anos. Muito antes, num concerto que decorreu na Sociedade dos Alunos do Apolo, numa altura em que o punk (ou os seus ecos) despontavam em Portugal, quer dizer lá pelos anos de 78 ou 79, Kathrine Frank, hoje pertencente ao grupo Rainbirds radicado na Alemanha, pontapeou também um membro da assistência depois de o cachecol que usava ter sido puxado.

As agressões do público a quem está em cima do palco também não são raras, mesmo sem contar com o lançamento sucessivo de escarretas com que algumas estrelas são brindadas. Célebre ficou o caso que envolveu António Manuel Ribeiro, cantor dos UHF. Corria o ano de 1981 quando, em São Pedro do Sul, durante um concerto da banda, o vocalista foi alvejado com uma noz num olho. Transportado ao hospital de Coimbra, António Manuel Ribeiro salvou-se da cegueira, segundo os médicos do hospital que o assistiram, «por milagre».

António Manuel Ribeiro é, muito provavelmente, o campeão do Rock no Hospital. Além de frequentes acidentes de viação, conta o próprio que, num espectáculo na praia de Santo Amaro de Oeira, -numa altura em que percorria o país em concertos para promover o álbum «Noites Negras de Azul» -foi afectado por uma «disfunção total» tendo recolhido ao hospital São Francisco Xavier depois de cair inanimado no palco, em estado de coma momentâneo. Na Figueira da Foz, por volta de 1986, num festival de bandas em que se integrava um concurso de disc-jockeys, os UHF dados os atrasos acumulados foram obrigados a tocar perto das 6h30 da manhã. O cantor dos UHF garante ter ficado três vezes bebêdo e três vezes sóbrio durante esse dia. O desagrado do público face à prestação dos artistas manifestou-se também num concerto dos UHF no Tramagai, por volta de 1982. Quando Carlos Peres fazia uma introdução vocal do conhecido tema «Rua do Carmo», uma garrafa estilhaçou-se no tripé do microfone. Enquanto era evacuado pela segurança, o responsável pelo lançamento fazia com os dedos o sinal de vitória.

Autêntico alfobre de heróis anónimos, o público dos concertos de rock disputa muitas vezes o papel de protagónista áqueles que estão no palco. Talvez por isso, a sala da Incrível Almadense, em Almada, foi testemunha, durante o concerto dos thrashers brasileiros Ratos do Porão, de cenas indescrítiveis. Lançar-se do primeiro e segundo balcão da sala para cima dos que ocupavam a plateia não é tarefa para qualquer mergulhador. Azar teve o que se precipitou numa clareira aberta pela assistência. O resultado foi a hospitalização imediata. Auto-destruição é também capaz de ser a razão que dá origem a tanto trabalho a levar a cabo pelos soldados da Cruz Vermelha nos concertos de estádio. Além dos efeitos provocados pelas drogas e álcool, háa registar o depoimento de um destes para-médicos depois do concerto dos Metallica e que dizia que «os narizes tinham sido uma catástrofe». Presume-se que devido à prática insistente de «headbanging», ou seja, abanar a cabeça de maneira pujante e repetida, como é habitual nos concertos de heavy-metal.

O desgaste fisico dos músicos também não é de desprezar, principalmente dos bateristas. Durante o concerto de consagração dos Xutos & Pontapés no pavilhão do Restelo, depois de uma digressão que percorreu Portugal, Kalu desmaiou devido ao esforço dispendido e à saturação do ar que se respirava. Problemas fisicos com António José de Almeida, baterista dos Heróis do Mar, também eram frequentes, necessitando de ajuda no regresso a casa depois dos concertos.

Outras anomalias verificadas em palco, resultam apenas da falta de condições com que são montados. muitos espectáculos. RuI Reininho, dos GNR, afundou-se no palco, durante o Verão passado numa discoteca algarvia, dada a fragilidade da madeira. Algumas costelas partidas deveram-se ao facto de, mal ter entrado em cena com um magnífico salto, ter aberto um buraco no precário palco, desaparecendo de cena. O mesmo já aconteceu aos UHF, num concerto em Setúbal. As traves mal escoradas fizeram com que tudo o que estava em cima do palco fosse abaixo. Incluídos estavam músicos, técnicos e todo o equipamento da banda, o que provocou ferimentos ligeiros. Mas não é preciso ir tão longe. Aquando da montagem do material para o concerto dos Xutos & Pontapés, em Coimbra, na Queima das Fitas deste ano, a cobertura do palco caíu. Registaram-se ferimentos em roadies e o baterista Kalu entrou em estado de choque por ter presenciado a cena. Na Rebordosa, os Rádio Macau foram obrigados - segundo o seu agente - a tocar com uma  instalação eléctrica que não dava provas de segurança. O fio de terra deixava passar quarenta vóltios, o que não prevenia o perigo de electrocussão. O microfone dava estalinhos e os músicos fizeram tudo para não se aproximar. da aparelhagem.

Polícia contra polícia foi quase o que se passou num espectáculo dos GNR, logo no início da sua carreira. Na altura, Alexandre Soares acumulava as funções de cantor, guitarrista, compositor e motorista da banda. Foi a desempenhar esta última que, no Algarve, atropelou um elemento da GNR propriamente dita, rasgando-lhe a farda. Ao subir ao palco para efectuar o ensaio de som, e já com algumas pessoas a assistir, vários efectivos dirigiram-se-lhe com a intenção de o deter. Foi quando afirmou «é pá, hoje somos mais». Resultado: pagou uma farda nova ao guarda republicano e «mais uma data de merdas», segundo conta no livro «Afectivamente GNR».

Soares faz também parte do longo rol de acidentados na estrada. Um desastre de mota, quando já não fazia parte dos GNR, privou-o de tocar guitarra durante vários meses. Muito recentemente, Rui Alves, membro dos P.C.P. (grupo a que também pertence Gui, ex-saxofonista dos Xutos & Pontapés), sofreu um traumatismo craneano depois de um acidente de automóvel. Em palco, ostentando pesadas ligaduras de gesso nalguma das pernas já foram vistos Anabela Duarte, num concertos dos GNR em Cascais e Manuel João Vieira, dos Ena Pá 2000, no Bar Oceano. Recentemente, os Irmãos Catita - banda de que também faz parte - tiveram de cancelar um espectáculo na discoteca Europa, já que Gimba fracturou os ossos de uma mão.

Distúrbios vários entre membros do povo foram também registados no Rock Rendez Vous e no bar Oceano, tendo uma destes rixas resultado em sérios danos para o actor João Grosso, O mesmo que foi processado por cantar o hino português em ritmo rock. Ou quando os Censurados foram tocar ao Algarve e o seu concerto foi palco de lutas entre bandos rivais de Loulé e Faro, que também contaram com a presença da GNR.

Mais interessantes são os confrontos músico-crítico, que ocorrem fora das páginas dos jornais e, muito frequentemente, depois de pareceres menos favoráveis por parte dos últimos. Rui Veloso encostou o crítico do «Expresso», João Lisboa, à parede, nos corredores do Teatro São Luiz, por altura do concerto de Marc Ribot. Menos conhecido foi o confronto da banda thrash Scum, do Barreiro, com o 'fotógrafo Carlos Didelet, depois deste ter assinado um texto destruidor nestas mesmas páginas, por conta de um concerto no Rock Rendez Vous. As honras de internacional vão, no entanto, todinha para António Duarte. O autor de «A Arte Eléctrica de Ser Português» foi vítima de uma tentativa de agressão por parte de Iggy Pop, da primeira vez que o cantor se deslocou a Portugal. De resto, são mais as ameaças.

Mais casos de violência registaram-se com bandas portuguesas, principalmente nos hóteis utilizados durante as digressões. Poucos são aqueles que assumem alguns actos de vandalismo, mas alguns casos passados com os Delfins, Peste & Sida, Joker ou Rádio Macau correm céleres no meio dos músicos, referindo-se muitas vezes a estadas nas ilhas dos Açores ou da Madeira.

Para o fim ficam os casos de João Ribas, dos Censurados, que depois de um concerto no Johnny Guitar e da respectiva festa, ' teve de receber' assistência médica. Uma paragem cardíaca terá mesmo motivado a utilização de choques eléctricos com vista à sua reanimação. De fora não podia ficar também o acontecido no Rock Rendez Vous, durante uma actuação dos Mão Morta. Adolfo Luxúria Canibal contou mais tarde que o sucedido teve por causa o ambiente «de cortar à faca» que a sala vivia nessa noite. Nada que justificasse um golpe de ponta e mola numa das pernas logo no início do espectáculo. Adolfo manteve-se em cena, sangrando abundantemente, sendo tranportado ao hospital apenas depois do concerto ter terminado de maneira nada habitual. O roubo de um pedal da guitarra de Zé dos Eclipses foi a causa. O vocalista da banda acabou por ser suturado em cerca de trinta pontos.

ARTIGO DE MIGUEL FRANCISCO CADETE / BLITZ 470 DE 02/11/1993

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