BIOGRAFIA
Hoje completamente anónima, a LINHA GERAL foi um dos projectos mais promissores da música moderna portuguesa e um dos que melhor conseguiu passar a sua visão para uma gravação de estúdio sem perder rigorosamente nada no processo.
Música de intervenção fortemente enraizada numa identidade individual e comunal de nacionalidade, tocada e cantada com exaltação como se de punk acústico formatado pela música popular portuguesa se tratasse, o som da LINHA GERAL era compacto e tenso muito por graça de uma das secções rítmicas mais poderosas que a música moderna em Portugal já conheceu e dos excelentes executantes entre os quais cantava CARLOS MANSO num estilo inflamado à boa maneira de um agitador de multidões. Se ZECA AFONSO e/ou JOSÉ MÁRIO BRANCO formassem uma banda punk no rescaldo do 25 de Abril de 74 não soariam muito diferentes da LINHA GERAL.
As 8 canções de Linha Geral (Ama Romanta, 1989) foram editadas numa capa de cartão apenas com o logotipo da banda carimbado a vermelho na frente e uma fotocópia das letras manuscritas no seu interior. Os seus breves 20 minutos e picos são pautados por uma urgência e ansiedade constantes e a música comete a proeza de não dispensar um pingo de energia do seu objectivo fundamental concentrando-se nas canções (curtas e magníficas, sem excepção, terminando quando têm de terminar) na disciplina de conjunto (que não admite floreados nem adornos) e na engrenagem admirável dos executantes a milhas de distância de outras bandas da altura.
Um disco precioso e intenso que alia com igual entusiasmo o optimismo com o incitamento à revolta, a celebração exultante com a fatalidade iminente. Em português. Ainda hoje mete no bolso a chorona geração de 90 com os seus pontapés no inglês e a fancaria de plástico com que imitam os subprodutos anglo-saxónicos.
Se ao menos pudessem pôr os ouvidos nisto...
Alinhamento do álbum: (Lado 1): 1 - Porque os Outros; 2 - Dança de Sombras; 3 - Formas Estranhas (instrumental); 4 - Coro Jovem; (Lado 2): 5 - Auto de Fé; 6 - Sinais do Tempo; 7 – Ousadia; 8 - Riscando os Céus (instrumental). (1)
FAMILY CAT/ FÓRUM SONS, 2002
(1) Colaboração de Nuno Rebelo (piano, guitarra, sampler, coros) e João Peste (coros)
FORMAÇÃO
Carlos Manso (voz, guitarras)
Fernando Soares (bateria)
Tiago Lopes (guitarras)
Pedro Alvim (baixo)
DISCOGRAFIA
Linha Geral (LP, Ama Romanta, 1989)
Colectâneas
Divergências (1986) - Hino à Nossa Luta
Música Moderna Portuguesa - 2º Volume (1986) - Em Céu Aberto
COMENTÁRIOS
«Faremos do medo ousadia / da noite manhã clara / do fado outro destino / do terror alegria.»
Carlos Manso, LP
«O segundo disco nunca chegaria a ver o brilho dos escaparates, nem as luzes "rubras, rubras" da ribalta. Deixaram de cantar hinos de muitas lutas, talvez porque essas lutas e batalhas fossem tarefa para outros; talvez porque os "dias brutais" os fizessem "navegar" até dar de caras com os "ventos de leste" e aí ter a "ousadia" de levar para a frente o "projecto global".» Ricardo Alexandre/Ritual 3 (1991)
NO RASTO DE...
Tiago Lopes gravou como The New Hard Noise Heavy Punk Cyber Speed Sonic Metal Punk Acid Sound e fez parte dos Golpe de Estado. Tem produzido várias bandas (31, Jaguar,...) e actualmente faz parte dos Electrónica Portugal com Rodrigo Leão.
Pedro Alvim fez parte dos Pop Dell´Arte.