Os tempos eram confusos e agitados, ninguém sabia muito bem onde começava e onde acabava a nova histeria que se apossara do meio musical e, dois anos depois do «rock português» e do seu glorioso martírio, avolumavam-se os receios de novo «flop».
Não foi isso que aconteceu, como a Primavera seguinte veio a confirmar. No Chiado, houve muitas bandas que provaram, no meio da rua, aquilo que representavam. Muitas outras ficaram pelo caminho, sem terem provado nada, ou por não terem nada para provar. O tempo ditou as atitudes e os gostos mais aconselháveis e, assim, houve muitos nomes que se perderam. Eís alguns, reunidos.
Classe «Eu gosto disto, mas a minha mâe não sabe»
Opinião Pública, Pauta Livre, Popeline Beige, Vasco da Gama, Bananas, Casino Twist, Tum Tá Tum Tum, Entes Queridos, Bando Branco, Der Stil (carta enviada ao «Blitz», a propósito de uma crítica à actuação do grupo: «Nem sequer fomos baiados e o público não se mostrou hóstil ao nosso projecto»), Smach (Idem: «Imaginem como se sentem três jovens que vão fazer as sua apresentação artística a nível nacional»).
Classe «Eu quero que vocês se vão kuzer!»
Tira Ke Dói, Cagalhões, Chutos Na Bexiga, Cães de Cristo, Flores de Sémen, Ezra Pound e a Loucura, Cui-isOfe, Bastardos do Cardeal, THC, Taquicárdia, Valium, Aqui D'El Rock, Não Há, Neo-Monovar.
Classe «Eu até acho graça»
Radar Khadafi, Anjos de Botticelli, Fancy One, Puzzle, Salada, Taxu Kent, Tectus Falsus, 26 TMG, 35 Left, Elo 4, H2 SO4, IBM, Academia da Euphoria, Antigo Testamento, Vodka Laranja, KS´Lixe.
Classe «Eu sou do bando»
Bando do Beco, Banda da Carris, Filhos da Pauta, Grupo de Baile, Jumping Jacks, Frakturados, Zona Privada, Zona Proibida, Alma Mater, Taedium Vitae, Ouidja Twareg, Bye Bye Lolita Girl.
Classe «Isto é o Roque»
URB, TNT, UX Bomb, Xeque-Mate, Iodo, Mala Posta, Mandrágora, NZZN, Ferro e Fogo, Doyo, CTT, Roquivários, Roxigénio, Stick.
Classe «Eu cá estou noutra»
Beatnicks, D.W.Art.
Afinal, terá sido o tempo que escolheu as atitudes mais convenientes, e ditou os gostos mais aconselhavéis? Ou o mercado, em que a maior parte destas bandas não chegou a entrar? Seja como for, o consolo que resta aos sobreviventes é que agora já ninguém lhes pode chamar nomes. Se isso não bastar, podem ficar a saber da banhada que inaugurou os últimos quatro anos, nas páginas do «Blitz» número um: um disco que Anamar deveria gravar com Carlos Zíngaro e textos de António Ribeiro. Divirtam-se; até porque nessa altura já se esperava que Miles Davis viesse tocar a Lisboa.
ARTIGO DE JORGE PIRES PUBLICADO NO CADERNO INTEGRANTE DO BLITZ Nº 211 DE 15.11.1988